O espaço da História

Apresentação

Esta é a tradução portuguesa da “História da Europa (1871 – 1919) ” de E. V. Tarlé, em boa medida auxiliada pela que N. Caplán fez directamente do idioma russo para o castelhano e que foi publicada em 1960 pela “Editorial Futuro, SRL” de Buenos Aires.

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Capítulo II - Quadro geral dos acontecimentos internos em França

1. A CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA. O CARÁCTER DA CONSTITUIÇÃO.

Ao longo de todo o período que estamos a considerar, a França continuou a ser um país em que a economia rural prevalecia sobre a indústria e em que o artesanato e os pequenos estabelecimentos predominavam sobre as grandes fábricas. O capital bancário, os juros dos depósitos nos bancos, a pequena propriedade mobiliária e imobiliária, eis os traços característicos da economia francesa da época. Em 1869, a população de França era de 38.400.000 habitantes, de 39.100.000 em 1903, e, em 1906, de 39.250.000. Nos primeiros anos do século XX a população activa (com retribuição directa) atingia o número de 15.880.000. Por sua vez, este número incluía donos de estabelecimentos industriais, comerciais e artesanais, donos de propriedades agrícolas e, em geral, pessoas que dirigiam esta ou aquela unidade económica independente, além dos empregados públicos, tudo num total de 4.870.000 homens; jornaleiros e, em geral, os chamados trabalhadores “isolados” (serviço doméstico, criados rurais, etc.), que somavam 4.130.000 pessoas; e, por fim, os operários e empregados dos estabelecimentos industriais, mineiros, comerciais e artesanais, em número de 6.880.000. É interessante fazer a análise mais detalhada da primeira destas cifras, a que inclui as pessoas com uma actividade independente: deste número, 42% ocupava-se na economia rural, 29% no comércio, 12% na indústria e no artesanato, e os restantes 17% correspondiam aos empregados públicos, profissões liberais, etc. O que significa que a economia camponesa independente continuava a ser, tal como no passado, uma camada numerosíssima e socialmente importante. A pequena burguesia rural conservava-se firmemente numa sólida posição social.

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Capítulo III - A política exterior da República Francesa antes da formação da Entente

1. A POLÍTICA COLONIAL.

Quando Clemenceau se colocou pela primeira vez à cabeça do governo da França, todas as questões políticas internas estavam a ser deslocadas, cada vez mais, para segundo plano, ganhando proeminência os problemas da política exterior. Haverá ainda que falar sobre este ministério Clemenceau; mas antes disso temos de nos ocupar, numa breve resenha, das principais correntes da política exterior francesa desenvolvida no decurso dos primeiros trinta anos da existência da III República, desde a paz de Frankfurt, em 1871, até ao começo da aproximação anglo-francesa, em 1902-1903.

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Capítulo IV - A Inglaterra nos últimos decénios do século XIX

1. A CONQUISTA DO EGIPTO. ANIMOSIDADE PARA COM A FRANÇA. FASHODA.

A completa derrota da França de Napoleão III, em 1870-1871, e a formação do Império alemão, que se dá precisamente na mesma época, pareciam configurar sucessos vantajosos para a Grã-Bretanha. Com efeito, os círculos governantes ingleses simpatizavam então abertamente com a Alemanha. A França era uma potência colonial e marítima que, em determinadas circunstâncias, poder-se-ia revelar um perigo para o domínio inglês no Oriente, tal como para a influência inglesa na Europa. Já a Alemanha não possuía nem colónias nem frota, e os seus interesses jamais tinham entrado em choque com os da Inglaterra. Ao invés, as relações desta com a França imperial, a partir dos últimos anos da década de setenta, eram particularmente frias. A abertura pelos franceses do canal no Istmo de Suez constituía uma grave inquietação para a Inglaterra. Tudo isto levou a que a derrota da França fosse recebida em Londres com muito agrado; inclusive, chegaram-se mesmo a ouvir algumas manifestações de alegria maligna. No entanto, logo a partir de 1875, a Inglaterra recusou-se a aceitar uma nova humilhação da França urdida por Bismarck; é que, mesmo sem isso, o equilíbrio europeu já fora desfeito, e em grau considerável, a favor da Alemanha.

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Capítulo V - A política interior do império britânico antes da Entente e na época da sua criação

1. A POLÍTICA DE CONCESSÕES E DE PACIFICAÇÃO. OUTORGA DUMA CONSTITUIÇÃO AOS BOERS. A REFORMA AGRÁRIA NA IRLANDA.

Para percepcionar qual foi a principal força motriz da política interior e exterior de todos os governos, sem excepção, que se sucederam na Inglaterra durante os treze transcorridos entre a conquista das repúblicas boers e o início da guerra mundial, há que ter em conta os seguintes factos: os círculos dirigentes do Império Britânico foram-se gradualmente convencendo de que era inevitável um grande choque militar com a Alemanha; davam-se conta cabal da incomensurável importância económica e política que as consequências dum tal choque teriam para o Império; e, por isso, dispunham-se a fazer as maiores concessões, sacrifícios e compromissos que ainda há bem pouco tempo consideravam inadmissíveis ou inimagináveis; faziam-no no propósito único de se assegurarem, no momento decisivo, das máximas probabilidades de vitória sobre o temível inimigo. Todo esse esforço teve por objectivo: 1) reduzir ao mínimo a possibilidade da explosão dum movimento revolucionário na Irlanda ou mesmo na Inglaterra, nas regiões da África do Sul recém-conquistadas ou na Índia, e 2) assegurar o maior número possível de aliados entre as grandes potências, bem como ainda ao nível das potências do segundo grau. Com frequência, ambos os pontos do programa reclamavam grandes e amargos sacrifícios, e muitos deles foram efectivamente praticados no lapso de tempo que decorreu de 1901 a 1914. Este procedimento táctico viu-se coroado de êxito, ainda que, de acordo com o ponto de vista daqueles que o puseram em marcha, não haja sido completamente realizado.

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Capítulo VI - Da unificação do império alemão ao agravamento da rivalidade anglo-germana

1. O CRESCIMENTO DO CAPITALISMO ALEMÃO NOS PRIMEIROS DECÉNIOS DA VIDA DO IMPÉRIO.

Para certos historiadores e publicistas alemães que, nos nossos dias [terceira década do século XX], procuram esboçar o quadro dos quarenta anos do “império bismarckiano”, a história deste surge-lhes, por vezes, como uma série de erros fatais, incorrigíveis, engendrando males que, duma forma constante e secreta, lhe corroíam e minavam o poderoso organismo, males esses que, após havê-lo enfraquecido, no momento decisivo o fizeram sucumbir; outras vezes, bem pelo contrário, essa história é apresentada, por este tipo de autores, como a de um éden florescente que teria perecido, antes do mais, devido à inveja e ao espírito de rivalidade, aos receios e à irredutível avidez dos inimigos do exterior, que apenas esmagaram a Alemanha graças à superioridade numérica e material das suas forças coligadas. Faço aqui menção a estes dois pontos de vista tão-só para sublinhar até que ponto a historiografia é todavia incapaz de descartar-se, eliminando-as, de concepções que mais próprias são da época infantil da ciência histórica que do século XX. Tais opiniões, métodos e formas de ver, ao invés de nos ajudarem a esclarecer as questões realmente difíceis, servem apenas para enredar até o mais simples dos problemas. E contudo, a questão que agora nos ocupa é suficientemente difícil para que, mesmo recorrendo a um método infinitamente mais seguro e real, não nos seja possível vencer-lhe as dificuldades através de umas quantas considerações esquemáticas.

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Capítulo VII - A criação da Entente (1904-1907)

1. PROJECTOS DE JOSEPH CHAMBERLAIN PARA UMA APROXIMAÇÃO À ALEMANHA. A FROTA MERCANTE E A ARMADA ALEMÃS. FRACASSO DA TENTATIVA DE CHAMBERLAIN.

A opinião de Guilherme II, infundada, como de costume, e superficial, sendo ele absolutamente carente do sentido da realidade histórica e sempre inclinado a exagerar, de maneira pueril, a importância dos indivíduos isolados (a dos soberanos, sobretudo) era – como ele soía repetir até ao momento do rebentar da guerra e ainda hoje afirma no seu exílio holandês [Tarlé escreve em 1927] – que só o rei Eduardo VII e mais ninguém fora o culpado por todas as desgraças da Alemanha e da Europa inteira, ou seja, pela criação da Entente. “Se bem que esteja morto, é todavia mais forte que eu!”, exclamou Guilherme em Agosto de 1914, querendo assim dar a entender que o culpado pela guerra não era ele, mas Eduardo VII, que a havia desejado.

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