1914 - A Frente Ocidental
A FRENTE OCIDENTAL
Os confrontos militares da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) verificaram-se em todos os continentes e em todos os mares. Na Europa, a guerra desenvolveu-se em quatro frentes: a Frente Leste, que opôs a Alemanha e a Áustria-Hungria à Rússia, a Frente dos Balcãs, que começou com o conflito entre a Áustria-Hungria e a Sérvia, a Frente Italiana, a partir de 1915, entre a Itália e a Áustria-Hungria, e a Frente Ocidental, onde se confrontaram as forças da Alemanha contra as da França, da Bélgica e do Reino Unido (os Aliados), numa fase inicial, mas à qual se juntaram outras Potências, entre as quais Portugal, em 1917. Tanto a França como o Reino Unido, utilizaram, na Frente Ocidental, tropas das suas colónias, protetorados ou domínios: Marrocos, África Ocidental Francesa, Índia, Austrália, Nova Zelândia, Canadá.
Na Frente Ocidental, as operações militares tiveram início no dia 2 de agosto de 1914, quando o exército alemão entrou no Luxemburgo e terminaram às 11H00 do dia 11 de novembro de 1918, quando entrou em vigor o armistício estabelecido entre a Alemanha e os Aliados. Durante os quatro anos e três meses de duração da guerra, os exércitos que tinham começado a movimentar-se com uma considerável rapidez, em especial o exército alemão, acabaram por ficar prisioneiros das longas linhas de trincheiras que se estendiam do Mar do Norte à fronteira com a Suíça. Esta linha de trincheiras ficou estabelecida no primeiro ano de guerra e a história do conflito na Frente Ocidental, até novembro de 1918, é a história das sucessivas tentativas, de cada um dos lados, para quebrar a continuidade dessa extensa proteção coletiva.
Ao longo da guerra, assistimos à introdução de armas e equipamentos dependentes dos avanços tecnológicos: a evolução da aviação, dos navios e, especialmente, dos submarinos, a utilização de diferentes tipos de gás, apesar da sua proibição pelas convenções internacionais, os primeiros carros de combate (os tanks, como os chamam nos países anglo-saxónicos) e muitos outros equipamentos e armamentos.
1915 - A Frente Ocidental
UMA GUERRA DE TRINCHEIRAS
A Frente Ocidental entrou em 1915 com uma fronteira bem definida entre os Aliados e as Potências Centrais. Nunca uma fronteira tinha sido definida de forma tão marcada na Europa por um sistema de fortificações tão extenso, tão profundo e tão elaborado [KEEGAN,p. 175]. Este sistema foi o resultado dos sucessivos fracassos mútuos das tentativas de envolver o flanco norte do adversário e da necessidade de aumentar significativamente a proteção perante a falta de recursos adequados para enfrentar o grande poder de fogo da artilharia e o número crescente de metralhadoras. Estendia-se esta fronteira desde Nieuport, na Bélgica, até à fronteira com a Suíça; ganhou profundidade ao serem construídas segundas, terceiras ou mais linhas de trincheiras e posições defensivas e pelo alcance que a artilharia lhe conferia; elaboraram-se sistemas de proteção coletiva cada vez mais complexos, à medida que se adivinhava o tempo que seria necessário mantê-los. A separar as linhas de trincheiras das forças aliadas e alemãs, ficava a terra de ninguém, com 200 a 250 metros de largura, mas em alguns pontos, com apenas 25 metros.
1916 - A Frente Ocidental
O ano de 1916 veio confirmar os problemas verificados no ano anterior, resultantes de uma guerra de posição, em que a mobilidade foi reduzida ao mínimo. Os Aliados e as Potências Centrais continuavam a procurar forma de ultrapassar o impasse criado pela guerra de trincheiras, como tinha acontecido em 1915, quando os alemães lançaram um ataque com gás cloro. Em 1916, o gás continuou a ser utilizado por ambas as partes, mas, com a mesma finalidade, estreou-se no campo de batalha um novo equipamento, o carro de combate, que os britânicos designaram por "tank", e que, fora dos meios militares, é muitas vezes referido como tanque de guerra.
Dos confrontos verificados em 1916, na Frente Ocidental, identificamos duas grandes ofensivas que, em geral, são referidas como batalhas: a Batalha de Verdun (21 de fevereiro a 18 de dezembro de 1916), uma ofensiva alemã; a Batalha do Somme (1 de julho a 18 de novembro de 1916), uma ofensiva dos Aliados. Em ambas as ofensivas há uma mudança de estratégia. A impossibilidade de obter uma vitória rápida conduziu à estratégia (militar) de atrito e exaustão. Isto significa duas coisas: destruir as forças do oponente, mais depressa do que ele consegue substituí-las e assegurar, ao mesmo tempo, manter o nível de destruição das próprias forças num patamar suportável; provocar o desgaste psicológico do oponente, provocando uma quebra do moral das tropas e da confiança da opinião pública [ECHEVARRIA II, pp. 30-46].
1917 - A Frente Ocidental
O ano de 1917 não introduziu novidades tecnológicas significativas na guerra, mas os armamentos e equipamentos que já existiam foram objeto de melhoramentos e desenvolvimentos. Continuou a ser utilizado o gás, mas com novas variantes. Os carros de combate britânicos Mk I evoluíram, tendo sido produzidos modelos mais modernos, embora com muitas semelhanças, e os franceses também produziram um número apreciável de carros de combate. Os aviões modernizaram-se e ganharam novas capacidades. Para além da observação do tiro e do reconhecimento, houve importantes desenvolvimentos no combate aéreo, no ataque ao solo e no bombardeamento. No mar, os navios eram construídos a um ritmo nunca visto, para repor as perdas causadas pelos submarinos alemães que, a 1 de fevereiro, iniciaram este tipo de guerra sem restrições.
1918 - A Frente Ocidental
O início do ano de 1918 não foi auspicioso para os Aliados. As promessas feitas em 1917 ficaram por cumprir. As comunicações marítimas entre a Europa e a América continuavam ameaçadas pelos submarinos alemães. A disponibilidade de recursos humanos que viessem substituir as grandes perdas sofridas estava dependente da preparação das forças americanas para entrarem em combate. Nesta situação difícil, tanto o Reino Unido como a França optaram por se manter na defensiva. Os comandantes britânico e francês, os generais Douglas Haig (1861-1928) e Philippe Pétain (1856-1951), concordaram em desenvolver ações de apoio mútuo caso os alemães lançassem uma ofensiva. A defesa em profundidade começou a ser organizada nas linhas aliadas.
O equilíbrio de forças em 1918 foi significativamente alterado relativamente ao ano anterior. A 15 de dezembro de 1917, a Rússia assinou um armistício com a Alemanha e seus aliados e iniciou conversações de paz que resultaram no Tratado de Paz de Brest-Litovsk, assinado a 3 de março de 1918. Com a Rússia afastada da guerra, quarenta e oito divisões alemãs puderam ser transferidas para reforçarem a Frente Ocidental onde o número de divisões alemãs (191) passou a ser superior ao número de divisões dos Aliados (178). Isto significava que os Alemães tinham uma oportunidade, a última, para tentarem derrotar os exércitos britânico e francês, antes que as forças norte-americanas viessem favorecer significativamente o potencial de combate dos Aliados.