VI - A revolução alastra

47. COMO O MESTRE FALOU COM OS DO SEU CONSELHO SOBRE A SUA FICADA OU PARTIDA DO REINO.

Tornando a falar dos feitos do Mestre, de que cessámos para levar a Rainha a Santarém e trazer NunÁlvares ao seu serviço, assim foi que nesta sazão em que NunÁlvares veio para ele, era o Mestre posto em grande cuidado e desvairados pensamentos. Porque alguns do seu conselho lhe diziam que não aguardasse elRei de Castela com o seu grão poder no reino, mas que se fosse para Inglaterra, espertando  [1] muitas razões por que o devia de fazer  e assinando [2] certos proveitos e seguranças que disso se seguiam, dizendo, entre as outras coisas, que pelo azo de tal partida ele poderia ali haver tanta ajuda de gentes que, depois, poderia tornar ao reino e o cobrar com muita sua honra, sem perda das gentes e dano da terra. Outros eram de todo contra esta opinião, desfazendo os ditos de tais com outras contrárias razões, assim como NunÁlvares, Rui Pereira, Álvoro Vasques de Góis, o doutor João das Regras, Álvoro Pais e o doutor Martim Afonso, dizendo que a partida do Mestre não era boa, nem em serviço de Deus nem seu, porque indo-se ele para fora da terra ficava o reino desamparado e sem defensor, e então cobraria elRei de Castela a cidade e os outros lugares que se lhe rebelavam, e dá-los-ia a tais pessoas e afortalezaria de tal guisa que não se poderiam depois cobrar senão com grande afã e muito espargimento de sangue, e que por isso lhe pediam, por mercê, que assossegasse no reino e não se partisse dele, que Deus, que para isto o chamara e escolhera, encaminharia seus feitos com grande acrescentamento da sua honra e estado.

O Mestre ouvia as razões de uns e dos outros, e se bem que aqueles que o aconselhavam a que se partisse do reino assinassem certas e notáveis razões por que o devia de fazer, o seu grande coração, desejador de cavaleirosos feitos, o fazia inclinar a todavia ficar nele e pôr-se a qualquer ventura pela defensão da terra. Mas desta tenção o turvavam muito os que lhe aconselhavam o contrário, em guisa que o faziam duvidar. E um dia, depois de comer, o Mestre mandou chamar os do seu conselho, e NunÁlvares com eles, e como todos foram juntos, o Mestre propôs ante eles, dizendo em esta guisa, Amigos, vós vedes bem o grande perigo em que este reino está, e como, partindo-me eu dele, segundo alguns de vós outros dizem, ele seria de todo perdido e sujeito a elRei de Castela, de guisa que tais aí há que dizem que melhor era pela defensão da terra morrer honradamente do que cair em servidão dos seus inimigos. E de mim vos digo que eu tal tenção tenho, e estou disposto a ficar nela e a não me partir por nenhuma maneira, se o vós outros assim acordardes.

Os do conselho que eram deste bando disseram que o Mestre dizia mui bem, e foram mui ledos com as suas razões, pedindo-lhe por mercê que assim o fizesse e não curasse doutro conselho, e que eles e todos os outros o serviriam bem e lealmente, e que esperavam, no poderoso Deus, que ele traria os seus feitos a tão bom fim que seria muito com sua honra e de todo o reino.

E depois de grandes razoados que sobre isto houveram falado, foram todos de acordo que o Mestre ficasse no reino e não se partisse dele, e começaram a falar noutras coisas e na tomada do castelo.

48. COMO O MESTRE QUISERA COMBATER O CASTELO DE LISBOA, E COMO O TOMOU SEM COMBATE.

Acabado isto que haveis ouvido, disse o Mestre que um dos empachos que tinha neste feito era o castelo da cidade, que estava contra ele da parte da Rainha, o qual cumpria muito de ser filhado para a cidade não receber dano por ele [3] dalgumas gentes, se quisessem vir contra ela. NunÁlvares e os outros do conselho disseram que o não tivesse [4] nem se anojasse por isto, que Deus, que lhe dera a cidade, lhe daria o castelo.

Ora assim aveio que pensando a Rainha nas coisas trespassadas [5], era o seu coração amiúde cercado de gastosos pensamentos, e receando o que depois se seguiu, estando então em Alenquer, falou com o Conde dom João Afonso, seu irmão, que era alcaide de Lisboa e tinha nela muitos e bons vassalos, para que lhes enviasse dizer que se lançassem no castelo com os seus escudeiros, por segurança de qualquer coisa que avir pudesse. Outorgado pelo Conde que isto era bem feito, falou com AfonsEanes Nogueira, que ali estava e era um deles, para que se viesse à cidade, falasse com aqueles que eram seus e o fizessem assim.

AfonsEanes chegou a Lisboa e todos aqueles com que havia de falar eram já do Mestre discípulos escondidos, tendo outra crença mui contrária à primeira, sendo já da sua parte contra a Rainha. E quando falou com Estêvão Vasques Filipe, depois com Afonso Furtado, com Antão Vasques e outros bons da cidade, e os achou mudados do que cuidou que tinha neles, não o quis dizer a mais, e foi-se para a sua pousada, corrigiu-se [6] o melhor que pôde e lançou-se no castelo pela porta da traição, com uns dez ou doze escudeiros.

E em se lançando assim, nasceu uma voz pela cidade, dizendo, Traição! Traição! Acorrei ao Mestre que querem matar! As gentes, como isto ouviram, foi grande o alvoroço em elas e começaram de se armar e correr depressa contra o castelo, porquanto o Mestre fora pousar nos Paços do Bispo, que são cerca dele, como ordenou de o tomar [7]. E vendo os que ali iam que não era nada do que lhes disseram, tornavam-se mui sanhudos, razoando muitas palavras de ameaça contra quaisquer que tal coisa se tremeteram de fazer [8].

Martim Afonso Valente, um dos honrados da cidade, que era alcaide do castelo pelo Conde dom João Afonso, irmão da Rainha, foi requerido que o desse ao Mestre e não consentisse que por ele viesse mal à cidade e a todo o reino, pois que português verdadeiro era, dizendo-se-lhe muitas razões por que o devia de fazer. Martim Afonso escusava-se disso, dizendo que não o faria por nenhuma guisa, por dele ter feita menagem e cair em mau caso, com grande doesto seu e de todos os que dele descendessem.

O Mestre ordenou então de os combater, e mandou fazer um artifício de madeira que chamam gata, que, como uma baixa cava [9] que então o castelo tinha fosse cheia, pudesse ir por cima juntar com ele, e de sob ela pudessem ir picar o muro [10] e entrar dentro. E diziam os de fora aos do castelo que o dessem ao Mestre, seu Senhor, senão que juravam a Deus que poriam em cima da gata Constança Afonso, mãe de AfonsEanes Nogueira e irmã da mulher de Martim Afonso [11], alcaide do castelo, e isso mesmo as mulheres e filhos de quantos eram dentro, e que então lançassem de cima fogo e pedras em quais deles quisessem. Alguns de dentro, receando isto, diziam ao alcaide que antes se sairiam cá fora, e não ajudariam a defender o castelo, do que terem azo de matar as mulheres e os filhos da guisa que lho diziam.

Em isto, antes que a gata fosse feita nem a cava estivesse cheia para se ir por cima, disse NunÁlvares ao Mestre que ele queria ir falar com Martim Afonso Valente e com AfonsEanes Nogueira sobre o feito do castelo, e que entendia que lho dariam, o Mestre disse que lhe prazia, e foi NunÁlvares ao castelo e disse a Martim Afonso muitas razões por que o devia de dar ao Mestre, dizendo que não cumpria que por seu azo se perdesse a cidade e o reino fosse posto em aventura, a qual coisa, pois verdadeiro português era, não lho devia consentir o coração, e fazendo-o doutro jeito, que todo o mundo lho teria a mal, e merecia de o apedrarem [12] todas as gentes da cidade por isso.

Com estas e outras razões que lhe NunÁlvares disse, depois, vendo Martim Afonso todo o povo da cidade alvoroçado contra si para tomarem o castelo e o combate que lhe queriam dar, e como os que estavam com ele diziam que se os daquela guisa combatessem, eles não haviam de matar as mulheres e os filhos para lho ajudar a defender, entendeu que não havia de poder se ter muito tempo. E então disse Martim Afonso a NunÁlvares que bem lhe prazia de dar o castelo ao Mestre, mas que o faria primeiro saber à Rainha e ao Conde dom João Afonso, a que dele tinha feita menagem.

NunÁlvares disse que logo ficasse determinado até qual dia se sofreriam [13] de o combater, e que lhe desse segurança de arreféns para isto, não sendo acorrido àquela sazão [14]. Então se preitejou Martim Afonso que não lhe vindo acorro até quarenta horas, o castelo fosse entregue ao Mestre sem outra contenda [15], e foi posto em arreféns, em poder de NunÁlvares, AfonsEanes Nogueira, e ele trouxe-o consigo para a sua pousada.

Os da cidade, como souberam que o castelo era preitejado, corriam todos para lá com armas, e toda aquela noite foi posta grande guarda nele, dormindo-se ao redor do monte com muitas candeias acesas, velando-se com grande cuidado para embargar qualquer ajuda, se acontecesse de vir ao alcaide.

Martim Afonso mandou à pressa um escudeiro a Alenquer [16], fazendo saber ao Conde em que ponto era com os da cidade e como o queriam combater e de que guisa, e quando lhe contou como os da cidade diziam que lhes poriam as mulheres e os filhos, a todos, em cima da gata, e que matassem quais deles quisessem, começou o Conde a sorrir e disse, Em verdade bom bioco [17] era esse que eles vos punham para lhes haverdes de dar o castelo. Dizei antes que houvestes vontade de lho dar, e deste-lho. Parece que fostes tais, com esse medo que vos puseram para vos espantar, como a raposa que estava ao pé da árvore e ameaçava com o rabo o corvo que estava em cima com o queijo no bico, para lho haver de deixar. E vós outros tais fostes, tomastes medo vão do que não houvéreis de tomar, e para terdes azo de lho dar mais cedo, foste-lo aprazar a certas horas para não poder ser acorrido. Eu gentes não tenho aqui tantas com que lhe possa acorrer, e ainda que as tivesse, o prazo é tão pequeno que somente para ferrar não haveria aí espaço.

O escudeiro respondeu que Martim Afonso não pudera maior tempo haver, e que ainda aquele lhe deram de mui mamente [18]. Falou então o Conde à Rainha e contou-lhe o jeito que os da cidade queriam ter em no combater [19], e ela disse, pois que assim era, que lhe mandasse dizer que lho entregasse [20], que quem depois houvesse a cidade, haveria o castelo.

Tornou-se o escudeiro com este recado, e passado o prazo, foi entregue o castelo ao Mestre aos trinta dias do mês de Dezembro, e foi pousar nele. E mandou-o devassar e tirar-lhe as portas da parte da cidade, por conselho de todo o povo.

Martim Afonso, como deu o castelo ao Mestre, veio-se para a sua mercê com os que dentro eram, e ele, AfonsEanes e os outros todos o serviram sempre bem e lealmente.

49. COMO FOI TOMADO O CASTELO DE BEJA E MORTO O ALMIRANTE MICER LANÇAROTE.

A Rainha antes disto, como o Conde João Fernandes foi morto e o levanto de Lisboa feito, havia mandado pelo reino as suas cartas, assim aos alcaides dos castelos como aos homens bons das vilas e cidades, fazendo-lhes queixume do que havia acontecido e sobre a maneira que haviam de ter em tomar voz por sua filha. E isso mesmo escreveu a elRei de Castela que se trabalhasse de vir depressa ao reino, o qual nesta sazão já era na Guarda, segundo adiante podereis ver. Assim que por azo da sua vinda, como por todos os mais [21] do reino serem da parte da Rainha, foi alçada voz e pendão por sua filha da guisa que lhes escreveu nas suas cartas, mas este tomar de voz e alçamento de pendão, com tal título como se apregoava, era grave coisa de ouvir à gente pequena dos lugares, e não podendo contradizer as grandes pessoas, gastavam-se em si mesmos [22] consentindo-o com medo e temor a que contradizer não podiam. Assim como aconteceu em Estremoz, que quando Joane Mendes de Vasconcelos, primo da Rainha dona Lionor, que àquele tempo tinha o castelo, mandou levantar voz com pendão por a Rainha dona Beatriz e o trouxeram pela vila Lopo Afonso e Lourenço Dias, com alguns outros do lugar, porque viram que o outro povo era posto em turvação e mal-contente de tal feito, logo disseram que mister havia na praça de cepo e çátor [23] para decepar os que contradissessem o que eles faziam.

E durando esta divisão nos corações de uns e dos outros, foi sabido pelo reino como o Mestre tomara carrego de se chamar regedor e defensor dos reinos, e como tomara o castelo de Lisboa e o tinha em seu poder, e a alguns do reino que disto souberam parte prouve muito [24], especialmente aos povos miúdos, enquanto a outros que eram da parte da Rainha pesava assaz, posto que entendessem que tudo era vaidade [25].  

Ora assim aveio que em Beja estava por alcaide Gonçalo Vasques de Melo, e tinha o castelo e voz pela Rainha. Em isto escreveu outra vez a Rainha cartas suas ao concelho de Beja, dizendo-lhes que tivessem todavia [26] voz por ela, e que se elRei de Castela acontecesse de vir por aí, o acolhessem na vila sem nenhum receio e temor, porque ele os defenderia de quem quer que lhes nojo quisesse fazer, e lhes faria por isso muitas mercês.

As cartas recebidas pelos principais do lugar, mandaram deitar pregão pela vila de que todos ao outro dia fossem ouvir recado de cartas que sua Senhora, a Rainha, mandara. No dia seguinte juntaram-se Estêvão Mafaldo, João Afonso Neto, mestre Joane, Rui Pais Sacoto, MendAfonso e outros honrados do lugar, e apartaram-se todos à porta pequena de Santa Maria da Feira e começaram de ver aquilo que lhes a Rainha escrevera.

Era muito o povo que estava pelo adro, aguardando que lhe dissessem que novas eram aquelas que a Rainha mandava dizer, e trigando-se [27] as vontades de todos, disse um que chamavam Gonçalo Ovelheiro para os outros, Não está ora aqui nenhum que vá saber que cartas são estas? Ou que recado é este que a Rainha manda?

Falou então um bom escudeiro que chamavam Gonçalo Nunes dAlvelos, que não era dos grandes nem dos mais pequenos, e disse para Vasco Rodrigues Carvalhal, Queres-me tu ajudar, e iremos saber que cartas são estas? E ele disse que lhe prazia. Então se juntaram com eles até uns trinta, e chegaram contra onde estavam aqueles mais honrados, e falou Gonçalo Nunes e disse, Que cartas são estas que vós assim ledes de que nós não sabemos parte? Porventura esta vila há-de-se manter e defender por quatro ou cinco que vós aqui sois? Certamente não, mas por nós outros que aqui moramos.

Disse então Estêvão Mafaldo, Que união é essa com que vós assim vindes?

Respondeu Gonçalo Nunes, dizendo, Isto não é união, mas queremos saber que cartas são estas.

Falou então MendAfonso e disse que ele perguntava bem e era de razão que as vissem. Então se meteram todos no Paço do concelho, e parte dos outros com eles, e lidas as cartas, deram-nas a um tabelião que as publicasse aos de fora, e este saiu a eles e disse, Amigos, o feito é este, eu não hei para quê me mais deter em ler o que aqui vem, a conclusão é esta, se quereis ter antes com a Rainha, ou com o Mestre?

E eles responderam todos a uma voz, dizendo, Com o Mestre! Com o Mestre!

Aqueles maiorais, quando isto ouviram, partiram-se logo cada um para as suas pousadas e não ousavam de aparecer [28].

Eles em isto, sem mais tardança, viram aparecer gentes de armas no castelo, então começaram todos a bradar, Alça-se o castelo! Alça-se o castelo!

Gonçalo Nunes cavalgou à pressa e os outros todos se foram armar e começaram logo de o combater [29]. O alcaide, quando isto viu, pôs fogo a duas torres em que estava muito armazém [30], para os da vila se não prestarem dele, acontecendo de ser tomado. E os de dentro defendendo-se rijamente e ferindo alguns de fora, puseram os da vila fogo às portas do castelo, e como foram ardidas, entraram ali dentro a uma quarta-feira às horas de comer, e tomaram o alcaide, e puseram-no a salvo alguns que lhe bem queriam.

Gonçalo Nunes e Vasco Rodrigues tomaram logo o castelo e alçaram voz pelo Mestre, roldando e velando a vila, às portas fechadas, em nome dele. E velando-se assim a dita vila, depois disto alguns dias, chegou ao serão em cima duma égua um homem do Campo dOurique e falou aos da vela [31], dizendo-lhes que dissessem ao que tinha carrego de reger a vila de que aquela tarde chegara micer Lançarote a um lugar que chamam os Colos, que são dali nove léguas, e que se ia a Odemira que é no  reino do Algarve, para se alçar com ele e tomar voz por elRei de Castela.

Gonçalo Nunes, como isto soube, levou consigo cinquenta a cavalo e um cento entre besteiros e homens de pé, e andaram toda a noite, em guisa que chegaram lá antemanhã. O Almirante tinha já selado para cavalgar, ele e os seus, e assim armados como estavam foram todos presos, e mouros, mouras e azémolas com quanto haver levavam. E aos seus tomaram as armas e bestas e deixaram-nos ir, e o Almirante veio para a vila em cima duma mula.

Ele já no lugar, puseram-no na torre da menagem, dizendo ele afincadamente a todos, Amigos, mandai-me a meu Senhor, o Mestre, bem preso e arrecadado, e não me queirais matar sem por quê, e eles diziam que não houvesse medo.

E enquanto Gonçalo Nunes foi levar ao Mestre tudo quanto lhe haviam tomado, receando os da vila que se levantasse o Almirante com o castelo, foram-se um dia todos lá e disseram a Vasco Rodrigues que o lançasse cá fora, e ele, receando-se deles, foi-se para sua casa e deixou-o na torre. O Almirante, quando isto viu, começou de se defender o melhor que pôde, mas eles bradando que descesse afundo e não houvesse medo, houve de o fazer, e cuidando de achar neles piedade e compaixão, mataram-no de má e desonrada morte, e assim acabou seus postumeiros dias.

50. COMO O CASTELO DE PORTALEGRE E O DE ESTREMOZ FORAM TOMADOS.

Desta guisa que haveis ouvido se levantaram os povos em outros lugares, sendo grande cisma e divisão entre os grandes e os pequenos, ao qual ajuntamento dos pequenos povos que se então assim juntava chamavam naquele tempo arraia-miúda. Os grandes, à primeira, escarnecendo dos pequenos, chamavam-lhes povo do Mexias [32] de Lisboa, que cuidavam que os havia de remir da sujeição delRei de Castela, e os pequenos aos grandes, depois que cobraram coração e se juntavam todos em um [33], chamavam-lhes traidores cismáticos que tinham a parte dos castelhanos, por darem o reino a cujo não era [34], e nenhum, por grande que fosse, era ousado de contradizer a isto nem falar por si nenhuma coisa, porque sabia que como falasse morte má tinha logo prestes, sem nenhum lhe poder ser bom [35].

Era maravilha de ver que tanto esforço dava [36] Deus neles e tanta cobardice nos outros, que os castelos que os antigos reis, por longos tempos jazendo sobre eles, com a força das armas não podiam tomar, os povos miúdos, mal armados e sem capitão, com os ventres ao Sol, antes do meio-dia os filhavam por força. Entre os quais um foi o castelo de Portalegre – de que era alcaide dom Pedro Álvares, Prior do Hospital, e de sua mão [37] tinha voz pela Rainha, assim como os outros – que se juntaram os da vila uma quinta-feira pela manhã e começaram de o combater, e antes do meio-dia, com a ajuda de Deus, foi filhado.

Semelhavelmente os da vila de Estremoz, postos em grande alvoroço, cometeram [38] ao alcaide que deixasse o castelo e se viesse para a vila, que doutra guisa não seriam dele seguros. Joane Mendes disse que o não faria por coisa que fosse [39], porque de o fazer lhe vinha grande desonra e prasmo. Vendo eles a sua resposta, determinaram de o combater, e tomaram um carro, puseram-no na praça e ordenaram de pôr nele as mulheres e os filhos dos que estavam lá dentro com o alcaide, que eram todos naturais do lugar. E os de dentro, quando isto viram, disseram a Joane Mendes que deixasse o castelo aos da vila, que doutra guisa não o entendiam de ajudar.

Vendo-se ele em tal apertada [40], mandou dizer aos de fora que lhe enviassem pessoa segura com que falasse, e acordar-se-ia com eles. Mandaram então frei Lourenço, guardião de São Francisco, e outros com ele que fossem ao castelo. E Joane Mendes propôs [41] muitas razões a se escusar de não ter com Castela, mas ser verdadeiro português como eles, porém as suas falas não prestando nada [42], foi determinado que todavia deixasse o castelo e que fosse entregue a um dos da vila que o tivesse [43]. Outorgou o alcaide que lhe prazia, porque não pôde mais fazer, e foi entregue a um escudeiro que chamavam Martim Peres, e o alcaide foi logo fora do castelo, e depois se foi a Moura, que tinha Álvoro Gonçalves por elRei de Castela. E os do concelho mandaram tirar as portas da torre e as do castelo contra a vila e derribar o peitoril [44] e as ameias daquela parte, e daí em diante foi o castelo velado e roldado por o Mestre e posto em poder do povo miúdo.

E não somente os homens, como dito é, mas ainda as mulheres entre si tinham bando pelo Mestre contra qualquer que da sua parte não era, em guisa que um dia se levantaram Mor Lourenço e Margarida Anes, adela, e outras mulheres em razões contra Maria Estevens, mãe de Nuno Rodrigues de Vasconcelos, dizendo que o seu filho dissera mal do Mestre e que era castelhano, e elas por si [45] o mataram e foram-no lançar do muro afundo.

51. COMO O ALCAIDE DE ÉVORA QUISERA TER VOZ POR A RAINHA E FOI ENTÃO TOMADO O CASTELO PELOS DA CIDADE.

Ouvindo isto que acontecia em alguns lugares, Álvoro Mendes dOliveira, alcaide-mor da cidade de Évora, que então tinha o castelo pela Rainha, vendo que semelhável caso, como acontecia aos outros, podia acontecer a ele, e que não tinha outras gentes consigo com que o pudesse defender salvo alguns seus criados, assim como GonçalEanes Melão, Martim Bravo, Rui Gil e outros, até sete ou oito por todos, mandou um dia chamar Martim Afonso Arnalho, mercador, que era então juiz e estava casado com uma donzela da Rainha dona Lionor, Gonçalo Lourenço, alcaide pequeno, Vasco Martins Porrado, escrivão da câmara do concelho, Rui Gonçalves, medideiro, Martim Velho e Álvoro Vasques, mercador, e outros honrados do lugar. E indo todos ao seu chamado, ele lhes propôs tantas e tais razões por parte [46] da Rainha, que ele queria ter, que todos outorgaram de se virem para ele e lho ajudarem a defender.

E como todos se lançaram lá dentro e foi sabido pela cidade, logo em esse dia Diogo Lopes Lobo, Fernão Gonçalves dArca e João Fernandes, seu filho, que eram uns dos grandes que aí havia, com todo o povo da cidade se levantaram contra eles e foram combater o castelo, subindo ao cimo da e isso mesmo do açougue, que são lugares altos donde lhes podiam empecer com as bestas, e dali tiravam [47] muitos virotões aos que estavam no castelo, o qual era mui forte de torres, muro e cercado de cava, e mui mau de tomar sem grande trabalho. E para os fazerem render mais asinha, tomaram as mulheres e os filhos dos que dentro eram para o defender, e puseram-nos em cima cada uns de seus carros, todos amarrados em eles, que era um jogo que os povos miúdos, em semelhante caso, muito costumavam então de fazer, e chegaram assim à porta do castelo, bradando aos de cima que saíssem fora e o desamparassem logo, senão que as mulheres e os filhos lhes queimariam todos, à vista e na presença deles. E em dizendo isto começaram de pôr fogo às portas, com grande alvoroço e arruído de muita gente.

O alcaide, quando isto viu, falou com aqueles que eram lá dentro com ele, e receando-se de cair na destemperada sanha daquele povo, acordaram de lhe dar o castelo antes que mais se fizesse. E foi a preitesia que os deixassem sair fora do castelo e da cidade, a salvo e com sua honra, e que lho deixariam desembargadamente. E depois que os seguraram com esta condição, foram lançados fora pela porta da traição, sendo cerradas todas as portas da cidade, receando-se que os não fossem roubar o povo miúdo, depois que saíssem.

O castelo era bem forte, e certo é que não fora tomado tão depressa, da guisa que o foi, senão fora aquele modo que tiveram de pôr as mulheres e os filhos dos que lá dentro eram em cima daqueles carros. E como foi tomado, logo foi roubado de quanto aí acharam, derribado por muitas partes e posto fogo dentro dele, em guisa que queimadas as casas e quanto nele havia, ficou devasso como pardieiro, sem parte defensável que nele houvesse.

A porta da traição foi logo quebrantada, pelo que nenhum podia entrar nem sair de dentro do castelo, e o alcaide se foi para Fernão Gonçalves de Sousa, que estava em Portel e tinha voz por Castela, e dos outros, alguns se foram para Pêro Rodrigues da Fonseca, que era alcaide de Olivença, e parte deles para Paio Rodrigues, alcaide de Campo Maior, que também ambos tinham voz por elRei de Castela. E foi a tomada deste castelo aos dois dias do mês de Janeiro da sobredita era de quatrocentos e vinte e dois anos [48].

E como esta coisa assim foi feita, logo escreveram depressa ao Mestre toda a maneira que em isto tiveram, e ele trigosamente [49] mandou suas cartas aos principais que em tal feito foram, e a Martim Gil Pestana, que era alferes da cidade, dizendo que vira a carta do concelho da obra muito de louvar que todos haviam feita pelo serviço de Deus, a honra do reino e da sua pessoa, por a qual razão era teúdo de acrescentar em eles, fazendo-lhes muitas mercês como a bons e leais servidores, e que esperava em Deus, que fora começo de tais feitos, que seria bom meio e fim deles, e que por isso lhes rogava, como verdadeiros naturais do reino, que em tudo trabalhassem e tivessem tão boa maneira que nem a ele nem a eles pudesse vir nenhum dano.

52. COMO OS DA CIDADE SE LEVANTARAM CONTRA A ABADESSA E DO JEITO QUE TIVERAM EM NA MATAR.

Tomado o castelo da guisa que dissemos, ficou o povo da cidade cheio de grande alvoroço, fora de todo o bom costume. Começaram de se mover por brava sanha, multiplicando novos queixumes contra quem lhes não havia feito erro, usavam de seu livre poder, desdenhando de quem à primeira tomavam por capitães, assim como Diogo Lopes Lobo, Fernão Gonçalves e outros grandes do lugar, e pondo suspeita sobre eles, disseram que se amavam o serviço do Mestre e eram da sua parte, se fossem a Lisboa para o servir e ajudar a defender o reino. Eles, vendo que lhes não cumpria contender sobre isto, fizeram-no assim e vieram-se para o Mestre.

Os maiorais daqueste [50] alvoroço eram GonçalEanes, cabreiro, e Vicente Anes, alfaiate, e seguindo [51] os seus feitos como lhes dava a vontade, traziam por apelido [52], Abite! Abite! Aqui dos de abite! Como alguns deles diziam, Vamos a fuão [53], matá-lo, e roubemo-lo, logo assim era feito, sem lhe valer nenhum dos grandes da cidade, posto que por ele se quisesse pôr.

Ora aveio que nesta sazão estavam as freiras e a Abadessa de São Bento, dum mosteiro não longe desse lugar, dentro da cidade, numas suas casas que são no Muro Quebrado, com receio e temor da guerra que já então se começava descobertamente, e andando o povo neste alvoroço, sem outra ocupação em que despendessem o tempo, nasceu uma voz, segundo alguns recontam, dizendo que GonçalEanes cabreiro, um dos capitães daquela união, falou para aquele povo e disse, Vamos matar a aleivosa da Abadessa, que é parenta da Rainha e sua criada. Outros dizem doutra maneira, e esta parece mais de razão, convém a saber, que a Abadessa, ouvindo como eles andavam daquela guisa e as coisas que faziam, disse de jeito que o souberam eles, Eis os bêbados! Andam com sua bebedice, deixai-os vós, que ainda eles mal se hão-de achar por estas coisas que andam fazendo.

Ora, por qualquer guisa que fosse, o levanto [54] contra ela não foi em vão e foram-na logo buscar às casas onde então pousava, e não a acharam nelas, porque ela fora ouvir missa com as suas freiras à igreja catedral da cidade, segundo havia em costume. Uma servidora da sua casa, quando viu que assim a buscavam, correu à pressa e foi à dizer-lhe como a buscavam daquela maneira. Ela, com o grande medo que houve deles, de que defensão não esperava de haver, deixou de ouvir missa, meteu-se no Tesouro e tomou a copa [55] em que vão comungar, onde dizem que estava então o Corpo de Deus consagrado, e tendo-a assim nas mãos, abraçando-se com ela, os que a não acharam em casa foram-na trigosamente [56] buscar à Sé, entrando todos com grandes brados do apelido que traziam, Abite! Abite! E como todos chegaram, perguntaram por ela, mostrando grande desejo de a achar.

Saíram então a eles Gonçalo Gonçalves, que era daí deão, Mem Peres, chantre, e outros beneficiados, para os desviarem da tenção que traziam, e nunca tanto puderam fazer, nem pregar da parte de Deus e de Santa Maria – dizendo-lhes que a deixassem por então e não tirassem da igreja, que eles a teriam presa e bem guardada para se fazer nela direito, se algum mal fizera ou dissera – que nunca o fazer quisessem. Nem isso mesmo as doridas preces dela puderam amansar a braveza daquele sanhoso povo, mas sem nenhuma reverência pelo Senhor que nas mãos tinha – que por então os deixou usar do seu livre poder, por juízo a nós não conhecido – lhe tomaram a copa das mãos e a tiraram fora do Tesouro. E levando-a assim pela Sé, antes que chegassem à porta da escada, lançou-se um deles a ela rijamente, levou-lhe o manto e as toucas da cabeça e deixou-a em cabelo sem outra cobertura. E indo mais adiante, antes que chegassem à porta principal, lançou-se outro homem a ela e cortou-lhe as fraldas de todos os vestidos, em tanto que [57] lhe apareceram as pernas todas e parte dos seus vergonhosos membros. E assim a tiraram fora da Sé desonradamente e a levaram pela Rua da Selaria até à Praça, e naquele lugar lhe deu um deles uma cutilada pela cabeça de que logo caiu morta em terra, e depois os outros começaram de acutilar por ela, cada uma [58] como lhes prazia.

Então a deixaram assim jazer na Praça e foram comer e buscar outros desenfadamentos. E cerca da noite vieram aqueles que a mataram, lançaram-lhe um baraço nos pés e levaram-na, arrastando-a até ao Rossio, cerca do curral das vacas. E deixando ali aquele desonrado corpo, alguns que disto houveram sentido o tomaram de noite e soterraram na Sé escondidamente, que doutra guisa não eram ousados de o fazer de praça [59].

53. COMO FOI ALÇADA VOZ E PENDÃO PELO MESTRE NA CIDADE DO PORTO, E DA MANEIRA QUE O POVO EM ISTO TEVE.

Deveis de saber que tanto que o Mestre tomou carrego de regedor e defensor dos reinos e soube que elRei de Castela vinha com todo o seu poder para entrar neles, logo escreveu as suas cartas a algumas vilas e cidades, e isso mesmo a certas pessoas, notificando-lhes nelas que bem sabiam da guisa como estes reinos estavam em ponto para se perder, e como elRei de Castela vinha para os tomar e meter os povos deles em sua sujeição, contra a ordenação dos tratos que prometidos tinha, a qual coisa deviam de ter por tão grave e tão estranha, que antes todos se deviam aventurar a morrer em tal demanda do que cair em servidão tão odiosa, e que ele, por honra e defensão do reino e dos naturais dele, se dispusera a tomar carrego de os reger e defender, o que, com a graça de Deus, entendia de levar adiante com a boa ajuda deles, e que por tanto lhes rogava que todos de bom coração, como verdadeiros portugueses, tivessem voz por Portugal e não curassem de nenhumas cartas que a Rainha e elRei de Castela em contrário disto lhes mandassem.

E dentre os lugares a que o seu recado chegou, um foi a cidade do Porto, onde as suas cartas não foram ouvidas em vão, mas como foram vistas, com coração muito prestes, logo se juntaram todos, especialmente o povo miúdo, que alguns outros dessa comunal gente, duvidando, receavam de pôr em tal feito a mão. Então aqueles que chamavam arraia-miúda disseram a um, por nome chamado Álvoro da Veiga, que levasse a bandeira pela vila em voz e nome do Mestre de Avis [60], e ele recusou de a levar, mostrando que o não devia de fazer, o qual logo foi chamado traidor e que era da parte da Rainha, dando-se-lhe tantas cutiladas, e tão de vontade, que era sobeja coisa de ver.

Este morto, não se fez mais naquele dia, mas juntaram-se todos ao outro seguinte com a sua bandeira tendida [61] na praça, tendo ordenado [62] que a levasse um bom homem do lugar que chamavam Afonso Eanes Pateiro, e se a levar não quisesse, que o matassem logo como ao outro. AfonsEanes soube disto parte por alguns deles que eram seus amigos, e bem cedo pela manhã, primeiro que o convidassem para tal obra, foi-se à praça da cidade, onde já todos eram juntos para a trazer pelo lugar, e antes que nenhum lhe dissesse que a levasse, deitou ele mão da bandeira, dizendo em altas vozes, que o ouviam todos, Portugal! Portugal! Pelo Mestre de Avis!

Então cavalgou AfonsEanes em cima dum grande e formoso cavalo que para isto já ali estava prestes, trazendo-a mui honradamente por toda a cidade, acompanhado de muita gente, assim clérigos como leigos, bradando todos a uma voz, Arraial! Arraial! Por o Mestre dAvis, Regedor e Defensor dos reinos de Portugal! E andando assim pela cidade, foram-se à – onde grandes tempos havia [63] que era posto interdito e não soterravam nenhum, e começaram de tanger os sinos e fazer dizer missas, e a dessoterrar os mortos, onde jaziam enterrados, e trazê-los para dentro da igreja, e nenhuma pessoa ousava isto contradizer –, pregou então um frade, muito a propósito da sua intenção, concluindo que todos deviam de ser duma vontade e desejo, e não andar entre eles desvairo nenhum, mas servir o Mestre lealmente e de bom coração como verdadeiros portugueses, pois que se punha a defender o reino para o livrar da sujeição delRei de Castela. Muito foram todos contentes das razões que o frade pregou, e daí em diante nenhum desacordo houve entre eles, mas todos de um talante se dispuseram a ter e a seguir a tenção do Mestre.

E desta guisa que tendes ouvido tomaram os povos miúdos muitos castelos aos alcaides deles, que para não alongar deixamos de dizer, alçando voz com pendões pela vila, bradando todos e dizendo, Portugal! Portugal! Pelo Mestre dAvis!

E não guardavam divedo [64] nem amizade a nenhum que a sua tenção não tivesse, mas quantos eram da parte de Rainha todos andavam à espada [65]. Quanta discordância pensais que era de pais com filhos, de irmãos com irmãos e de mulheres com maridos? A nenhum era ouvida razão nem escusa que por sua parte dar quisesse, mas como um falava, E fuão [66] deles é, não havia coisa que lhe desse a vida [67] nem justiça que o livrasse de suas mãos. E isto era especialmente contra os melhores e mais honrados que havia nos lugares, dos quais muitos foram postos em grande cajão [68] de morte e roubados de quanto haviam, e alguns deles, com medo, fugiam para as vilas que tinham voz por elRei de Castela, outros iam-se para fora do reino, deixando os seus bens e tudo quanto haviam, os quais o Mestre logo dava a quem lhos pedia, e os miúdos corriam a pós eles [69], buscavam-nos e prendiam-nos tão de vontade que parecia que lidavam pela fé.

 



[1] Aduzindo, expondo.

[2] Assinalando, apontando.

[3] A partir dele, a partir do castelo.

[4] O empacho.

[5] Anteriormente ocorridas.

[6] Preparou-se.

[7] Dado que o tencionava tomar.

[8] Se atreveram de fazer.

[9] Fosso.

[10] Pudesse ir por cima do fosso encostar-se ao castelo, e debaixo dela pudessem minar o muro.

[11] A mãe de Afonso Eanes Nogueira não era irmã, mas sim a mãe ou a madrasta da mulher de Martim Afonso Valente, que aliás também se chamava Constança Afonso. Ver ao Serviço da coroa no Século XV, de M. S. S. Farelo.

[12] Que o apedrejassem.

[13] Absteriam.

[14] Àquela data.

[15] Mais contenda.

[16] Portanto, de acordo com o penúltimo parágrafo deste capítulo, a 28 de Dezembro de 1383 Leonor Teles ainda estava em Alenquer.

[17] Manto de mulheres.

[18] De muito má vontade.

[19] Em combatê-lo.

[20] Que mandasse dizer a Martim Afonso Valente que entregasse o castelo ao Mestre.

[21] Maiores.

[22] Consumiam-se a si próprios.

[23] Cepo e carrasco  (do latim, sector, sectoris, «cortador», «aquele que corta»). – Nota de J.G.M.

[24] Agradou-lhes muito.

[25] Embora pensassem que tudo aquilo não passava de vaidade.

[26] Mantivessem sempre.

[27] Agitando-se, impacientando-se.

[28] E não se atreviam a aparecer.

[29] Começaram logo a assaltar o castelo.

[30] Material de guerra para a defesa.

[31] Vigia.

[32] Messias.

[33] Cobraram coragem e se juntavam todos em união.

[34] A de quem o reino não era.

[35] Sem ninguém lhe poder valer.

[36] Punha.

[37] E por sua ordem.

[38] Propuseram.

[39] Por nenhuma razão, de maneira nenhuma.

[40] Aperto.

[41] Expôs.

[42] Não servindo de nada.

[43] Que o guardasse.

[44] Parapeito.

[45] E elas próprias.

[46] Pelo partido.

[47] Atiravam.

[48] Aos dois dias do mês de Janeiro de 1384.

[49] Celeremente, rapidamente.

[50] Deste.

[51] Prosseguindo, continuando.

[52] Grito de chamamento, de mobilização.

[53] Fulano.

[54] Motim.

[55] Vaso.

[56] Apressadamente.

[57] De modo que.

[58] Cada cutilada.

[59] Abertamente, em público.

[60] Como representante ou mandatário do Mestre de Avis.

[61] Desfraldada.

[62] Decidido.

[63] Onde há muito tempo.

[64] Laço de parentesco.

[65] Mas passavam a fio de espada todos quantos eram do partido da rainha.

[66] Fulano.

[67] Não havia nada que lhe conservasse a vida.

[68] Perigo.

[69] Atrás deles.