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Planos de guerra da Alemanha - a questão naval

INTRODUÇÃO

À semelhança das outras Potências europeias, a Alemanha desenvolveu planos para enfrentar as ameaças que identificou no contexto internacional da época e para atingir os objetivos que considerou fundamentais para assegurar a defesa dos seus interesses que, de forma crescente, se faziam sentir nas mais longínquas partes do mundo. Os planos em vigor no início da Primeira Guerra Mundial começaram a ser desenhados logo após a unificação da Alemanha (1871) e sofreram sucessivas alterações por forma a poderem dar resposta à evolução da situação internacional, também da situação interna, e para se ajustarem à evolução dos recursos disponíveis e das teorias táticas e estratégicas.

Em junho de 1914, o político britânico Reginald Welby, 1º barão de Welby (1832-1915), afirmava que «"a Alemanha, de que se lembravam nos anos cinquenta, era um grupo de estados insignificantes sob governo de principezinhos insignificantes", mas agora, no tempo de vida de um homem, era o mais poderoso estado da Europa, e ainda em crescimento.» [KENNEDY, p. 210].  Tornou-se numa entidade política com uma população superior à da França ou da Grã-Bretanha. Só a Rússia tinha uma população mais numerosa. Em 1871, após ter anexado a Alsácia-Lorena, a Alemanha tinha uma população de quarenta e um milhões de habitantes, mais seis milhões do que a França. Entretanto, em 1910, quase quarenta anos após a sua unificação, a Alemanha atingira os sessenta e cinco milhões de habitantes, mais vinte e seis milhões do que a França. [MITCHELL, p. 20] A diferença não era apenas uma questão quantitativa já que a população alemã estava colocada à frente das outras Grandes Potências, em especial da Áustria-Hungria e da Rússia, em questões de alfabetização. Na Alemanha, nos anos anteriores à guerra, apenas 0,1% dos recrutas eram analfabetos.

As estatísticas de finais do século XIX e início do século XX mostram uma Alemanha em franco crescimento, com uma economia seguramente superior às da França e, ainda mais, da Rússia, tendo conseguido ultrapassar a Grã-Bretanha em alguns sectores como, por exemplo, a exportação de produtos manufaturados. Ainda no século XIX, a Alemanha já se tornara no motor económico da Europa. Esta Grande Potência, cada vez mais poderosa, apresentava, no entanto, duas importantes vulnerabilidades: uma de natureza geográfica, imutável, e outra, no âmbito da diplomacia, consequência das decisões políticas do Governo alemão após a saída de Otto von Bismarck (1815-1898), em 1890, do cargo de chanceler do Império [KENNEDY, pp. 212-213].

A Alemanha de 1914 (ver figura 1) tinha fronteira, a ocidente, com os Países Baixos (Holanda), a Bélgica, o Luxemburgo e a França. As três primeiras potências tinham o estatuto de neutralidade. A França partilhava a fronteira com a Alemanha nos territórios da Alsácia-Lorena, anexados ao Império Alemão após a Guerra Franco-Prussiana, nos termos do Tratado de Frankfurt de 10 de maio de 1871. Para sul, a Alemanha fazia fronteira com a Suíça, cuja neutralidade remontava a 1515, e com o Império Austro-Húngaro, o seu aliado nos termos da Aliança Dual de 1879. A oriente, a fronteira era comum com o Império Russo, no território que hoje é a Polónia, então partilhada pelos Impérios alemão, russo e austro-húngaro, durante o século XVIII. A norte, a costa alemã era banhada pelo Mar do Norte e, em maior extensão, pelo Mar Báltico e, entre estes dois mares e partilhando a fronteira com a Alemanha, situava-se a Dinamarca que, a 1 de agosto de 1914, declarou a neutralidade militar nos termos da Convenção de Haia de 1907.

Alemanha 1914

 Figura 1 - Posição da Alemanha na Europa, em 1914. Mapa original em https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Alem%C3%A3o#/media/Ficheiro:Former_German_territories.svg

A Alemanha, situada no centro do Continente, via-se rodeada de prováveis inimigos, a França e a Rússia, unidas numa aliança militar iniciada em 1892, que a podiam obrigar, em caso de guerra, a lutar em duas frentes, o que significava não poder empenhar todo o seu potencial militar contra um dos inimigos. Quando muito, poderia contar com a ajuda do Império Austro-Húngaro que tinha fronteira com a Rússia. Esta questão da guerra em duas frentes foi o cerne das preocupações dos responsáveis alemães pelo planeamento do emprego das forças terrestres. Para além desta preocupação, tendo uma fronteira marítima e sendo esta a via pela qual se estabelecia a comunicação com as colónias e por onde circulavam grande parte das exportações e importações, entre estas, cerca de metade dos alimentos que consumia, a Alemanha necessitava de recursos navais adequados ao tráfego de mercadorias, uma marinha mercante volumosa, mas também uma marinha de guerra que garantisse a segurança das rotas marítimas utilizadas e dos entrepostos comerciais instalados no mundo e salvaguardasse o seu prestígio como potência mundial.

A Alemanha não possuía uma marinha de guerra desta natureza. Com estes objetivos tornava-se necessário construir uma frota de guerra em que os navios teriam características diferentes dos que existiam e estavam dedicados especialmente à defesa da costa alemã. A definição dos recursos navais necessários e o seu processo de aquisição acabariam por dar origem à possibilidade de confronto com a maior potência naval do mundo, o Reino Unido. Desta forma, no âmbito dos preparativos que a Alemanha fez para salvaguardar os seus interesses vitais, foram elaborados planos para emprego das forças terrestres numa guerra em duas frentes, contra a França e contra a Rússia, e para a construção de uma frota de guerra especialmente concebida para enfrentar a Royal Navy. Comecemos por examinar as questões navais.

 

GUILHERME II E A WELTPOLITIK

Otto von Bismarck, ministro presidente (primeiro-ministro) da Prússia, passou a desempenhar as funções de chanceler do Império Alemão em 1871. «Durante perto de vinte anos, Bismarck preservou a paz e reduziu a tensão internacional com a sua moderação e flexibilidade. Mas ele pagou o preço da grandeza incompreendida porque os seus sucessores e os seus presumidos seguidores não aprenderam do seu exemplo outra lição que a de multiplicar as armas e travar uma guerra que causaria o suicídio da civilização europeia.» [KISSINGER, p. 165] A política externa de Bismarck centrava-se no isolamento da França, com a finalidade de evitar que esta encontrasse aliados que a acompanhassem num ataque à Alemanha. A política interna foi dedicada  ao desenvolvimento do Império na Europa, evitando o mais possível aplicar em colónias os recursos que entendia serem tão necessários para o progresso alemão.

Império colonial alemão em 1914

Figura 2 - Império colonial alemão em 1914 [Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Alem%C3%A3o#/media/Ficheiro:German_colonial.PNG]

A ideologia colonial alemã assentou nas obras de Friedrich Fabri, com Bedarf Deutschland der Colonien?, e Wilhelm Hübbe-Schleiden, com Deutsche Kolonisation, que forneceram os argumentos económicos e especialmente os que se ligavam ao nacionalismo, à Deutschtum (Germanidade). Pretendia-se, conforme o pensamento da época, dotar a Alemanha de um conjunto de territórios ultramarinos com o estatuto de colónias ou outros que lhe garantissem um lugar cimeiro «num mundo dominado cada vez mais pelos grandes impérios.» [WESSELING, p. 260] Em 1882 foi criada a Deutsche Kolonialverein (Associação Colonial Alemã) que procurou despertar o interesse alemão pela política colonial. Dois anos mais tarde, foi criada outra organização, a Gesellschaft für Deutsche Kolonisation (Sociedade para a Colonização Alemã) que, em 1887, se fundiu com a primeira formando a Deutsche Kolonialgesellschaft. A colonização alemã teve início com iniciativas privadas, mas, a partir de 1884, Bismarck decidiu intervir e, sob a sua direção, em meia dúzia de anos, foram adquiridas 99% das colónias que a Alemanha possuía nas vésperas da Primeira Guerra Mundial. Sob o governo de Bismarck, a Alemanha criou um império colonial, mas não criou os meios navais indispensáveis para garantir a segurança das linhas de comunicações entre o território europeu e as possessões ultramarinas. [WESSELING, pp. 260-261]

A segurança dessas linhas estava dependente de quem detinha a hegemonia naval, o Reino Unido. Esta hegemonia significava que a Alemanha devia optar por uma de três atitudes possíveis: podia manter-se indiferente a essa hegemonia, o que seria difícil porque a Royal Navy dominava as rotas por onde passavam os navios alemães; podia aceitá-la e desenvolver as suas políticas no cenário em que a segurança das suas rotas estava dependente da vontade do Reino Unido, o que implicava um bom relacionamento entre os dois países; ou podia opor-se, adquirindo os recursos e as infraestruturas necessárias para se tornar autossuficiente na defesa das suas rotas marítimas e dos seus territórios ultramarinos. Se a segunda opção fragilizava a defesa do Império e criava uma imagem de desprestígio inaceitável para a Alemanha, a terceira provocaria certamente uma reação do Reino Unido que não aceitaria perder a hegemonia naval, estratégia de defesa dos seus interesses vitais. [«Hegemony» in EVANS & NEWNHAM, pp. 221-222]

Na última década do século XIX, Bismarck foi afastado do Governo «por um novo imperador impaciente que atribuiu a si próprio a imodesta tarefa de melhorar a política do mestre.» [KISSINGER, p. 167] Guilherme II (1859-1941) subiu ao trono a 15 de junho de 1888, por morte prematura do seu pai, Frederico III, que faleceu com apenas 56 anos devido a uma doença do foro oncológico. O seu relacionamento com Bismarck foi conflituoso tanto no plano interno como externo. Guilherme II, além de pretender ter uma intervenção mais ativa na política, tinha o sonho de dotar a Alemanha de uma marinha de guerra poderosa, ao mesmo nível da Royal Navy que ele tanto admirava desde a sua juventude; queria que a Alemanha dispusesse do seu "lugar ao Sol". «O que o Kaiser mais queria era o reconhecimento internacional da importância da Alemanha e, acima de tudo, do seu poder. Tentou conduzir o que ele e a sua comitiva chamaram Weltpolitik, ou política global, sem nunca definir aquele termo ou a sua relação com o interesse nacional alemão.» [KISSINGER, p. 171]

Dois acontecimentos, entre os vários que então se poderiam enumerar, tiveram influência nas decisões de Guilherme II relativas à construção de uma marinha de guerra, acontecimentos de natureza muito diferente: o "Telegrama Krüger" (1896) e a celebração, em 1897, do Jubileu de Diamante da Rainha Vitória, avó do Imperador alemão. Entre 29 de dezembro de 1895 e 2 de janeiro de 1896, quando o Reino Unido procurava expandir a Colónia do Cabo e, para isso, dominar as repúblicas bóeres independentes, a República da África do Sul (Transval) foi alvo de uma ação lançada por Leander Starr Jameson, com um grupo de britânicos que trabalhavam para a  British South Africa Company e elementos da polícia do protetorado britânico da Bechuanalândia, com a finalidade de provocar uma insurreição. Contudo, as autoridades do Transval dominaram a situação e aprisionaram a força invasora e o próprio Jameson. Precipitadamente, o Kaiser enviou um telegrama ao presidente do Transval, Paul Krüger, a felicitá-lo pelo sucesso das suas forças. O telegrama passou ao conhecimento público, a opinião pública britânica demonstrou o seu desagrado e o jornal britânico The Times publicou a 4 de janeiro de 1896: «O Imperador alemão deu um passo muito grave que deve ser visto como nitidamente hostil a este país.» [MacMILLAN, p. 56] 

Os alemães mostravam uma grande simpatia pelos Bóeres, o que não era novidade, e este caso veio colocar alguns obstáculos a um melhor entendimento entre o Reino Unido e o Império Alemão. Mas, também mostrou que a Alemanha não dispunha de meios navais que lhe permitissem prestar qualquer auxílio ao Transval. Guilherme II terá sugerido inicialmente, entre outras opções, que fosse estabelecido um protetorado alemão sobre o Transval e fossem enviadas tropas alemãs para África, ideia de que foi dissuadido pelo chanceler, o Príncipe Chlodwig von Hohenlohe-Schillingsfürst. De qualquer forma, esta seria uma tarefa difícil de concretizar porque, na altura, a Grã-Bretanha dominava os mares. [MacMILLAN, p. 76]

Em março de 1897, durante a discussão dos interesses alemães na África do Sul, entre Sir Francis Bertie, do British Foreign Office e o diplomata alemão Hermann von Eckardstein, Francis Bertie informou o seu interlocutor de que o Governo britânico tomaria todas as medidas para afastar qualquer intervenção alemã e que, em caso de guerra, o Governo britânico teria o apoio da Nação inglesa. Afirmou ainda que seria muito fácil aos britânicos estabelecerem o bloqueio de Hamburgo e Bremen e aniquilar o comércio alemão em alto mar. [CLARK, pp. 175-176] Em maio de 1899, ainda antes do início da Segunda Guerra dos Bóeres (11 de outubro de 1899 – 31 de maio de 1902), Guilherme II disse ao embaixador britânico que «ele sabia que a Inglaterra era poderosa no mar e a Alemanha fraca, e dessa forma a primeira podia atuar com impunidade, mas viria o tempo em que até a Inglaterra teria de considerar a frota alemã como um importante fator, e ele apenas esperava […] que por essa altura a Alemanha não tenha formado outras combinações (alianças) que não seriam certamente agradáveis para a Inglaterra.» Quando a guerra contra os Bóeres começou, Bernhard von Bülow, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros (20 de outubro de 1897 – 16 de outubro de 1900) e o futuro chanceler do Império (17 de outubro de 1900 – 14 de julho de 1909), escreveu: «Não estou em posição de ir para além da mais estrita neutralidade, e devo, em primeiro lugar, obter a minha própria frota. Daqui a vinte anos, quando a frota estiver pronta, eu posso utilizar outra linguagem.» [WOODWARD, p. 27]

Na celebração do Jubileu de Diamante (1896, com as celebrações adiadas para 1897) da Rainha Vitória (1819-1901, reinou de 20 de junho de 1837 a 22 de janeiro de 1901), contrariamente ao esperado, Guilherme II, o seu neto mais velho, não esteve presente. «A Rainha e o seu primeiro-ministro, Lord Salisbury, decidiram que o Jubileu deveria mostrar o Império. Assim, não eram convidados os monarcas europeus, mas foram os primeiro-ministros dos domínios e os príncipes da Índia. (Isto também evitou ter como convidado o difícil neto da Rainha, Guilherme II da Alemanha que, receava-se, podia causar problemas).» No programa das cerimónias «o maior espetáculo de todos e a mais impressionante exibição do poder britânico, foi a revista naval em Spithead [...] entre a costa inglesa e a ilha de Wight, 165 navios posicionavam-se em fileiras [...] Vapores alemães transportaram uma multidão de alemães que estavam fascinados por esta exibição de poder naval. [...] O Japão e os Estados Unidos, ambos novas potências navais, enviaram um navio de guerra cada um, em saudação. A Alemanha enviou um navio de guerra obsoleto.» Guilherme II escreveu ao seu irmão, Henrique, que fez carreira na Marinha Imperial Alemã: «Lamento profundamente não ter melhor navio para colocar à sua disposição, enquanto outras nações brilham com os seus excelentes navios.» [MacMILLAN, pp. 26-27]

 

TIRPITZ E A TEORIA DO RISCO

Alfred von Tirpitz (1849-1930) entrou na marinha alemã em 1865. Na década de 1880-90, foi o principal especialista em torpedos da marinha alemã. Entre 1892 e 1896, prestou serviço como chefe do estado-maior do alto comando da marinha. Neste último ano foi nomeado para comandar as forças navais alemãs no Extremo Oriente e, a 16 de junho de 1897, foi nomeado Secretário de Estado para a Marinha, ou seja, ficou na direção do Reichsmarineamt (Gabinete Imperial Naval Alemão). Nestas funções, sucedeu ao almirante Friederich von Hollmann (1890-1897) e manteve-se no cargo até 1916.

O Secretário de Estado que dirigia o Reichsmarineamt respondia diretamente perante o Chanceler do Império e estava sob comando direto do Imperador. As tarefas do Reichsmarineamt eram principalmente administrativas, como era o caso dos planos de construção naval, dos programas de manutenção ou dos abastecimentos. Competia-lhe também informar e apresentar propostas ao Reichstag (parlamento alemão) sobre as questões navais. As tarefas de carácter operacional eram da competência do Admiralstab (Estado-Maior do Almirantado). Quando Tirpitz entrou para o Reichsmarineamt, a Kaiserliche Marine (Marinha Imperial Alemã) era uma força dedicada quase exclusivamente à defesa da costa.

Tirpitz estava determinado a dotar a Alemanha com uma verdadeira frota de alto-mar. Desde cedo reconheceu a utilidade da marinha de guerra como um instrumento adequado e indispensável para o desenvolvimento da nova política alemã, a Weltpolitik, mas também para desempenhar um papel preponderante na solução de problemas da área da política interna. A ação de Tirpitz foi, no entanto, orientada sobretudo para a necessidade de dispor dos recursos adequados ao desenvolvimento da Weltpolitik. «A meu ver, a Alemanha, no século que se avizinha, cairá rapidamente da sua posição como Grande Potência a menos que comecemos a desenvolver os nossos interesses marítimos, energicamente, sistematicamente e sem demoras.» [BERGHAHN, p. 42]

Tirpitz 1916

Figura 3 - Alfred von Tirpitz em 1916 [Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alfred_von_Tirpitz.png]

Para Tirpitz, «o Império Britânico tornou-se o obstáculo que ameaça as aspirações expansionistas dos alemães. Ele sabia que o colapso de outros impérios coloniais (Portugal, por exemplo) não traria só por si ganhos territoriais à Alemanha. Em última análise, quaisquer aquisições coloniais estavam dependentes da aprovação tácita ou explícita da Inglaterra.» [BERGHAHN, p. 49] Isto significava que, enquanto a Alemanha não dispusesse de uma marinha suficientemente forte e com capacidade para operar em qualquer parte do globo, o Reino Unido tinha sempre a possibilidade de utilizar a Royal Navy para obrigar a Alemanha a recuar nas suas pretensões expansionistas ou a enfrentar a derrota num confronto essencialmente naval. A questão que se colocava era a de transformar a Kaiserliche Marine numa força naval com capacidade para enfrentar a Royal Navy. Esta era a mais poderosa marinha do mundo e tinha adotado, com o Naval Defence Act 1889 (31 de Maio de 1889), o princípio designado por two-power standard, o que significava que a marinha britânica devia dispor de um número de navios de guerra pelo menos igual às duas maiores marinhas, para além da Royal Navy, que, em 1889, eram as marinhas da França e da Rússia.

Transformar a marinha alemã, quase inteiramente dedicada à defesa da costa, num instrumento de poder naval capaz de enfrentar a Royal Navy exigia muito tempo, recursos financeiros avultados e infraestruturas adequadas. Sabendo que o Reino Unido pretendia manter a dimensão da Royal Navy de acordo com o princípio de two-power standard, Tirpitz definiu a dimensão da Kaiserliche Marine de acordo com um conceito estratégico que ficou conhecido como “Teoria do Risco de Tirpitz”. No preâmbulo da proposta da Segunda Lei Naval (1900) apresentada por Tirpitz ao Reichstag, ficava claro o objetivo da Teoria do Risco: «Para proteger o comércio marítimo alemão e as colónias nas atuais circunstâncias, há apenas um meio: a Alemanha deve ter uma frota de guerra tão forte que mesmo para o adversário com o maior poder naval, uma guerra contra ela envolveria riscos tais como colocar em perigo a sua própria posição no mundo.» [MASSIE, p. 181]

Segundo este conceito, a marinha de guerra alemã, embora inferior à Royal Navy, seria suficientemente poderosa para causar tais perdas à marinha britânica que esta corria o risco de ficar mais fraca que as da França e Rússia juntas. Em 1898, quando foi publicada a primeira definição do programa de construção naval alemão, ainda o Reino Unido não se tinha ligado à França através da Entente Cordiale (1904), nem à Rússia pela Entente Anglo-Russa (1907). Neste quadro, «o Reino Unido chegaria a acordo com a Alemanha e consentiria, embora relutantemente, nos seus esforços para se tornar uma potência mundial. Por esse motivo, a marinha alemã não foi construída para ser utilizada numa guerra, mas para atuar como um instrumento diplomático para obter concessões em tempo de paz.» [SELIGMANN, pp. 2-3 do ficheiro em pdf]

 

AS LEIS NAVAIS

Era impossível construir uma frota de guerra rapidamente e existiam outros obstáculos a remover. A opinião pública não estava convencida de que a falta de uma frota de alto-mar alemã pusesse em risco o comércio e as colónias. Por outro lado, os empréstimos necessários para a construção dos navios dificilmente teriam o consentimento do Reichstag, que aprovava os orçamentos. Entretanto, os acontecimentos na África do Sul vieram ajudar a alterar esta forma de encarar a construção da frota alemã. O incidente conhecido como “Telegrama Kruger” [Ver o artigo «As Relações Anglo-Alemãs» em 10 - As relações anglo-alemãs (oespacodahistoria.com)] veio ajudar o ponto de vista de Guilherme II. 

A Lei Naval de 1898 previa a construção até, 1903, de 16 navios de guerra de vários tipos. Este programa foi anunciado à opinião pública em Novembro de 1897. No Reichstag foram distribuídas estatísticas relativas às principais marinhas de guerra no mundo e, enquanto se desenvolviam estas ações de sensibilização para a construção da frota alemã de alto-mar, forças alemãs ocupavam Kiau-Chau (14 de novembro de 1897), na China, com a finalidade de estabelecer ali uma base naval no Extremo Oriente. A Primeira Lei Naval foi aprovada no final de março de 1898, com 212 votos a favor e 139 contra, sendo promulgada a 10 de abril de 1898. A lei garantia o financiamento da construção naval até ao ano financeiro 1903-1904. O programa inscrito na lei era a primeira etapa de um programa mais vasto e previa construir, até 1903, dezasseis navios de vários tipos.

A Segunda Guerra dos Bóeres teve início a 11 de outubro de 1899 e, novamente, a generalidade do povo alemão estava ao lado dos Bóeres e contra os Britânicos. Novamente, estes acontecimentos foram uma ajuda para mobilizar a opinião pública e o Reichstag para a construção da frota de alto-mar. A 24 de outubro de 1899, a imprensa alemã publicou a notícia de que em breve seria apresentada uma nova lei naval. Esta lei foi apresentada ao Reichstag em janeiro de 1900, no mesmo mês em que o navio alemão Bunddesrath foi aprisionado por um cruzador britânico, perto da baía de Lourenço Marques (hoje Maputo), sob suspeita de transportar contrabando de guerra destinado aos Bóeres, e levado para Durban. Em junho de 1900, foi aprovada e promulgada uma nova lei naval.

SMS Kaiser Wilhelm II

Figura 4 - Litografia representando o SMS Kaiser Wilhelm [Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/SMS_Kaiser_Wilhelm_II#/media/File:S.M._Linienschiff_Kaiser_Wilhelm_II_-_restoration,_borderless.jpg]

Nos termos da Segunda Lei Naval, promulgada a 14 de junho de 1900, o tamanho da frota de guerra alemã subiu de dezanove para trinta e oito navios, num programa com a duração de dezassete anos, de 1901 a 1917. Estava previsto que a frota atingisse a sua máxima dimensão em 1920. Tratava-se de uma poderosa frota de batalha destinada ao Mar do Norte que colocaria a Alemanha na posição de segunda potência naval do mundo. [MASSIE, pp. 180-181] A satisfação de Guilherme II com a aprovação desta lei teve como consequência a introdução do Secretário de Estado da Marinha na nobreza prussiana. Alfred Tirpitz passou a ser Alfred von Tirpitz e começou a frequentar os espaços privados do Imperador.

A construção da frota de guerra alemã baseou-se fundamentalmente na Segunda Lei Naval, mas ainda surgiram três Leis Navais Suplementares (Novelles) em 1906, 1908 e 1912. As circunstâncias e os acontecimentos que se seguiram foram bem explorados por Tirpitz que conseguiu apresentar novos argumentos para introduzir alterações na lei, tendo em vista um maior crescimento do poder naval alemão. A Lei de 1906 seguiu-se à Primeira Crise de Marrocos ou Crise de Crise de Tânger (1905-1906) [Ver o artigo «9 - A Primeira Crise de Marrocos»] e permitiu adicionar seis grandes cruzadores à frota alemã. A Lei Naval Suplementar de 1908 foi aprovada a seguir à criação da Entente Anglo-Russa (31 de agosto de 1907) [ver o artigo «11 - A Tríplice Entente»] e a ligação cada vez mais estreita entre franceses e britânicos, que criou na Alemanha uma perceção de cerco.  A lei de 28 de março de 1908 reduziu o prazo em que os navios deviam ser substituídos. Diminuindo o seu tempo de serviço de 25 para 20 anos, a frota mantinha-se mais moderna. A Lei Suplementar de 21 de maio de 1912 seguiu-se à Segunda Crise de Marrocos ou Crise de Agadir (1911) [ver o artigo «12 - A consolidação das alianças»] e permitiu aumentar três navios à frota alemã.

Após a lei de 1912, a frota de guerra alemã deveria ser constituída por 41 couraçados, 18 grandes cruzadores, 40 pequenos cruzadores, 4 Flottillenführer (navios destinados ao comando de flotilhas), 144 barcos torpedeiros e 72 submarinos. A generalidade dos navios tinham uma vida útil de 20 anos e os submarinos de 12. [em «German Naval Laws» na Wikipédia em língua inglesa, com referência a R. Gardiner, ed., Conway's 1906–1921, p. 135]  O quadro seguinte, em que o tipo de navios utiliza a terminologia anglo-saxónica,  mostra a comparação entre as forças navais da Alemanha com as do Reino Unido, França e Rússia, em agosto de 1914 [ELLIS & COX, p. 251; existem diferenças, por vezes consideráveis, entre os vários autores]:

 Tabela 1

Paul Kennedy apresenta-nos um quadro que nos dá uma ideia do esforço feito pelas Grandes Potências para desenvolverem as suas marinhas de guerra. Os valores apresentados referem-se à tonelagem das frotas (Esta medida esteve em vigor até 1994. Hoje utiliza-se a “arqueação”). Apresentamos apenas os valores referentes à Alemanha e ao Reino Unido [KENNEDY, p. 203]:

 Tabela 2 

Ao ser apresentada a proposta de lei ao Reichstag, em 1898, Tirpitz pretendia estabelecer um programa a médio ou longo prazo para o qual não seria necessário “regatear” anualmente no parlamento o orçamento adequado. « Tirpitz assegurou ao Kaiser, em fevereiro de 1898, que era um dos seus principais objetivos eliminar a influência perturbadora do Reichstag nos planos de Sua Majestade relativos ao desenvolvimento da marinha.» [BERGHAHN, p. 45] Esta lei, a que foi aprovada em 1900 e as leis suplementares de 1906, 1908 e 1912 tinham o objetivo de garantir a regularidade da construção tornando o futuro mais previsível. As encomendas regulares dirigidas à indústria de construção naval tornavam a produção mais independente dos altos e baixos do mercado internacional. [BERGHAHN, p. 40]. Esta forma de obter os orçamentos permitiam também estabelecer os quantitativos anuais de recursos humanos a incorporar, sistema que já vigorava no Exército que incorporava a 1% da população.

 

QUESTÕES DA POLÍTICA INTERNA ALEMÃ

Um programa de construção naval ambicioso, como viria a ser o programa alemão, teria obrigatoriamente influência em questões sociais, económicas e políticas. O Império Alemão, ao virar do século, era uma entidade política recente, com apenas vinte e nove anos, e graves problemas, internos e externos, a necessitarem de solução. Por um lado, a Coroa queria garantir que a estrutura do poder no Império se manteria a salvo do impacto, em questões sociais, provocado pela industrialização da Alemanha. Guilherme II tinha que personificar o líder capaz de reduzir as tensões internas e colocar a Alemanha na posição de potência mundial, admirada e respeitada. [BERGHAHN, pp. 38-39] O programa de construção naval foi o catalisador da interação entre o Estado e a Sociedade.

Era um facto que a segurança das posições ultramarinas alemãs estava em grande parte dependente da boa vontade britânica. A Alemanha não possuía os recursos navais necessários para se impor como potência mundial e, nesse quadro, os industriais alemães, mostravam-se receosos de crises económicas como a que ficou conhecida por “Grande Depressão” (período de crescimento lento que durou de meados da década de 1870 a meados da década de 1890) que teve um efeito traumático na comunidade de negócios alemã. Esta classe viu na construção de uma marinha a oportunidade de o Império conduzir uma grande política ultramarina, mas também a possibilidade de expansão do volume de negócios. Foi neste âmbito que se formou a chamada “Liga Naval” ou “Associação da frota” (Deutscher Flottenverein), uma organização pública, «fundada em 1898, após a aprovação da Primeira Lei Naval, pelo Kaiser e pelo Almirante Tirpitz,  em conjunção com a família industrial Krupp cujas fábricas forneceriam a maioria das peças da artilharia e blindagem para a nova frota […] A missão estatutária da Flottenverein era despertar, desenvolver e fortalecer o interesse do Povo alemão para a importância e função da frota. Desta forma, a Flottenverein pretendia ser uma organização verdadeiramente nacionalista» [BACHMANN, pp. 86-87] e desenvolveu um conjunto de atividades de propaganda que visavam dar a conhecer à população alemã a necessidade da construção da frota.

Guilherme II pretendia que a figura do Kaiser ficasse mais ligada à ideia de Nação alemã, esbatendo tanto quanto possível os particularismos inerentes aos diferentes Estados que formavam o Império, já que alguns deles mantinham uma grande autonomia. Guilherme II era Imperador da Alemanha porque essa era uma atribuição dos reis da Prússia. Apesar da unificação, Würtemberg manteve o seu próprio exército que, quando chamado a intervir em defesa do Império, era incorporado no Exército Imperial como uma unidade distinta; também cunhava a sua própria moeda que apresentava o busto do seu Rei, Karl Alexander I. A Baviera usufruía de um sistema semelhante. Se estas situações acentuavam as particularidades, já a marinha foi utilizada para reforçar as ligações entre o local e o nacional.

À medida que os navios foram sendo construídos, o seu batismo revestia-se de um cerimonial que envolvia entidades de vários Estados do Império e os navios receberam nomes relacionados com várias regiões, como forma de as ligarem a um universo mais vasto, para que a sua população se sentisse integrada numa entidade comum, o Império. Alguns navios receberam o nome dos governantes, como foi o caso do SMS [Seiner Majestät Schiff (Navio de Sua Majestade)] König Albert (1912), relativo ao Rei Alberto da Saxónia, ou o SMS Prinzregent Luitpold (1911), relativo ao Príncipe Regente Leopoldo da Baviera. Outros receberam nomes relacionados com a toponímia alemã, como foi o caso do SMS Westfalen (1908) ou o SMS Thüringen (1909). As condições geográficas relativas às personalidades ou às regiões que serviram de referência ao batismo dos navios referem-se, em muitos casos, a Estados afastados do mar, ou seja, sem que tivessem tido, até à unificação da Alemanha, alguma ligação a uma marinha de guerra. Este era o caso dos Estados do sul da Alemanha. No entanto, a construção desses navios tinha em vista a defesa do Império e não de cada um dos Estados. Os navios contribuíram, desta forma, para o desenvolvimento da imagem da Nação alemã e para que o conceito de Império se sobrepusesse aos conceitos regionais.

A expansão da marinha alemã, que iria permitir, em segurança, a expansão da economia, apresentava ainda outras vantagens. «A política naval de Tirpitz era nada menos que um ambicioso plano para estabilizar o sistema político prusso-alemão e para paralisar a pressão por mudanças.» [BERGHAHN, p. 42] No sistema eleitoral do Império Alemão distinguiam-se quatro grupos: o Partido do Centro (Deutsche Zentrums-partei), os Liberais Nacionais (Nationalliberale), a Liga Alemã dos Livres-Pensadores (Deutsche Freidenker-Verband)  e o Partido Social Democrata (SPD - Sozialdemokratische Partei Deutschlands). Este último partido, que obteve 3,2% nas eleições de 1871,  cresceu para 19,7% em 1890, tornando-se o partido com maior número de votos até ao início da guerra: 23,3% em 1893, 27,2% em 1898, 31,7% em 1903, 29% em 1907 e 34,8% em 1912. [COOK & PAXTON, pp. 122 a 126 e 147] O número crescente de deputados do Partido Social Democrata ameaçava o status quo da política alemã que se baseava no poder dos donos das terras, dos militares e da forte burocracia. A crescente industrialização provocou um grande aumento dos operários, mais abertos às ideias de esquerda (onde se enquadravam os sociais democratas), tidas como revolucionárias e que o poder instituído tanto temia. Era esta nova e crescente classe de trabalhadores em luta por um melhor nível de vida, que se tornava necessário controlar.

O economista alemão Ernst Francke (1852-1921) acreditava que a construção da frota «era particularmente adequada para “elevar as massas para níveis mais elevados de conduta moral e riqueza”. Para ele “a promoção do poder” era idêntica à “promoção da prosperidade”. As classes trabalhadoras, ele afirmava, beneficiarão dos frutos económicos da política mundial alemã. Por outro lado, eles seriam quem sofreria mais com a exclusão alemã do mercado mundial.» [BERGHAHN, p. 43] Para Bülow, uma política bem sucedida em manter uma atitude positiva relativamente ao nosso modo de vida e que mobilizasse «as melhores forças patrióticas», que «apelasse às mais elevadas emoções nacionais» seria o melhor remédio contra os Sociais Democratas. [citado em BERGHAHN, p. 43] «A ideia de uma grande marinha, pensava-se, tinha o poder de reviver o patriotismo das diferentes classes sociais e dotá-las novamente com lealdade e amor ao Imperador e ao Império.» [citado em BERGHAHN, p. 44] Com esta política, pretendia-se fortalecer os partidos da ala direita do Reichstag, permitir a aprovação de legislação mais conservadora evitando um sistema parlamentar genuíno que poderia pôr em causa a existência da própria Monarquia.

Se a marinha de guerra alemã a ser desenvolvida, conforme a legislação naval aprovada em 1898, 1900, 1906, 1908 e 1912, tinha o objetivo de assegurar os interesses alemães no seio da comunidade internacional, garantir a Weltpolitik, em especial perante o que se considerava a principal ameaça, a Royal Navy, o certo é que a sua construção foi também utilizada para atingir objetivos da política interna, na área económica, com as oportunidades de negócio que oferecia; na área política, com a mobilização dos partidos em defesa de uma monarquia que, embora constitucional, deixava pouco espaço de manobra ao parlamento; no desenvolvimento de um nacionalismo que completasse a unificação colocando o Império e o Imperador no topo dos interesses nacionais; na área social quando se pretendeu mobilizar a classe operária com um espírito nacionalista em defesa do conceito de Império e da figura do Imperador. Tratou-se, no plano interno, de desenvolver as aspirações nacionais que justificariam a avultada atribuição de recursos necessários ao desenvolvimento de uma estratégia global, aspirações nacionais que se foram desenvolvendo ao passo do desenrolar das crises em consequência das quais a Alemanha foi ficando cada vez mais isolada.

 

BIBLIOGRAFIA

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COOK, Chris & PAXTON, John, European Political Facts 1848-1918, © 1978, Macmillan Press, 1978, London, ISBN 0-333-15100-3.

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WOODWARD, Sir Ernest Llewellyn, Great Britain and the German Navy, © 1935, Frank Cass and Co. Ltd., London, 1964.

 

Torres Vedras, 15 de julho de 2021

Manuel F. V. G. Mourão