Capítulo XVI - A conquista do Mediterrâneo
A POLÍTICA EXTERIOR DE ROMA DESDE OS FINAIS DA II GUERRA PÚNICA ATÉ AO INÍCIO DA GUERRA CIVIL.
A SITUAÇÃO NO ORIENTE.
Depois da batalha de Ráfia (em 217), na Palestina do sul, onde as tropas egípcias derrotaram o exército invasor da Síria, atingira-se um relativo equilíbrio de forças no Mediterrâneo oriental entre as monarquias helénicas, a Macedónia de Philippus V, a Síria de Antiochus III e o Egipto de Ptolemaeus IV.
Nos finais do século III, Antíoco ameaçará esse equilíbrio. Com a sua expedição ao Oriente (210 – 205) conseguira restaurar, em quase toda a sua extensão original, o domínio da monarquia selêucida (fundada por Seleuco, general de Alexandre).
Ao invés, o Egipto dos últimos anos de Ptolemeu Filopator (= “o que ama o pai”) entrara em decadência. O dissoluto Ptolemeu havia caído nas mãos de uma camarilha de palácio; o país, nas dos revoltosos. Em 204 morre, deixando o trono ao seu jovem filho Ptolemeu Epifanes, com o poder a ser exercido por regentes que todos odiavam.
Antíoco e Filipe, aproveitando a debilidade egípcia, dividem entre si as possessões dos Ptolemeus na Síria, Ásia Menor, Mar Egeu e nos Estreitos. Terão para isso concertado um tratado secreto no Inverno de 203/202.
Como quer que haja sido, ambos iniciaram a agressão sem sequer se preocuparem em invocar um pretexto.
Antíoco invade a Síria meridional, destroça o exército egípcio e avança até Gaza. Mas esta cidade resiste-lhe e obriga-o a deter-se.
Enquanto isso, Filipe, aliado ao rei da Bitínia, Prúsias, iniciara operações não só contra possessões egípcias, mas também e sobretudo contra as cidades independentes do Egeu, do Helesponto (Hellespontus; os Dardanelos) e do Estreito do Bósforo (Bosphorus). A estas conquistas, Filipe fê-las acompanhar por destruições de cidades e pela venda dos habitantes como escravos, o que gerou uma onda de indignação no mundo grego.
Os ródios (Rhodiensis; os habitantes da ilha de Rodes), que não queriam que os Estreitos caíssem nas mãos dos macedónios, declaram guerra a Filipe, atraindo como aliados Bizâncio (Byzantium), Quio (Chios) e outras comunidades gregas. Átalo de Pérgamo também se juntou à aliança antimacedónica.
Filipe assediava Quio quando foi atacado pelas frotas reunidas de Rodes e Pérgamo. A batalha terminou sem vencedor, perdendo os macedónios 10.000 soldados, 28 naves de linha e 70 navios ligeiros.
Porém, pouco tempo depois, Filipe derrota a frota ródia em frente da ilha de Lade (próxima de Mileto). Tenta ainda com a sua infantaria ligeira a conquista de Pérgamo, mas fracassa.
Por fim, no Inverno de 201/200, Filipe é bloqueado pelas frotas de Pérgamo e Rodes na Cária do sul. Políbio (XVI, 24): «Filipe encontrou-se em grande dificuldade, mas as circunstâncias obrigaram-no a permanecer no seu posto e a levar, como é costume dizer, uma vida de lobo. Recorrendo umas vezes à pilhagem, outras ao furto, à violência ou à adulação, que era contrária à sua natureza, lograva obter para o seu esfomeado exército carne, figos e pão em pequenas quantidades». No início da Primavera de 200 Filipe conseguiu regressar à Macedónia.
ROMA INGERE-SE. A SEGUNDA GUERRA MACEDÓNICA.
No Verão de 201 chegam a Roma embaixadores de Rodes e Pérgamo a solicitar a ajuda do senado. Já antes ali se apresentara um embaixador egípcio, pedindo a Roma que tomasse sob a sua tutela Ptolemeu V.
A Itália estava exangue, a sua população havia diminuído, a dívida pública, sob a forma de empréstimo obrigatório (tributum), atingia uma cifra colossal e o povo almejava a paz. No entanto, após uma larga discussão, o senado decidiu-se pela guerra. Com Antíoco, Roma não tivera ainda qualquer conflito. Para se justificarem perante o povo, os senadores urdem o enredo da ameaça macedónia e da necessidade de levar a cabo, contra ela, uma guerra preventiva (Lívio, XXXI, 7). Ao olhos do senado, com Antíoco ocupado na Palestina e tendo Filipe sofrido a derrota na Ásia Menor, a ocasião era particularmente propícia.
Nos círculos dirigentes romanos, com a última guerra, tornara-se predominante a facção que defendia uma política internacional de agressão permanente.
A economia esclavagista progredira consideravelmente, existindo agora um bem maior número de grandes propriedades. O mesmo se passara ao nível das operações financeiras e do comércio por grosso. Difundira-se a circulação do dinheiro. A nobreza e a classe rica em geral começavam a apreciar o modo de vida refinado. Tudo isso vinha reforçar a influência da facção agressiva.
Na Primavera de 200 são enviados três embaixadores à península balcânica com a missão de atrair os Estados gregos a uma grande coligação antimacedónia. Deviam também apresentar a Filipe uma série de exigências provocatórias, impossíveis de aceitar.
A primeira missão falhou, recusando-se as comunidades gregas a qualquer compromisso com os romanos. Só Atenas, já em conflito aberto com Filipe, lhe declarou a guerra.
Mas a missão prosseguiu. Um dos embaixadores apresenta-se perante Filipe, que então assediava Abido (Abydus, no Helesponto), e faz-lhe o ultimato. Devia cessar todas as operações bélicas contra os gregos, restituir ao Egipto todas as possessões tomadas e submeter a um tribunal os litígios entre a Macedónia, Pérgamo e Rodes. Filipe recusa o ultimato e Roma, por decisão dos comícios, declara-lhe a guerra.
Na primeira votação as centúrias recusaram a rogatio. Só após a insistência do cônsul, numa segunda votação, a declaração de guerra foi aprovada (Lívio, XXXI, 6-8).
No Outono desse ano (200), duas legiões de voluntários (recrutados entre os veteranos da II guerra púnica) comandados pelo cônsul Públio Sulpício desembarcam em Apolónia e começam a guerra com o ataque às possessões ilírias de Filipe. Ao mesmo tempo, também Atenas passa à ofensiva.
Enquanto isso a embaixada romana prosseguia a sua acção diplomática, tratando agora de garantir a neutralidade de Antíoco no conflito. Ainda que haja evitado dar uma resposta definitiva, Antíoco manter-se-á de facto neutral em todo o decurso da guerra. Deixando Filipe entregue à sua sorte, preferiu aproveitar a situação para se apoderar das possessões egípcias na Síria.
Os etólios entram também em guerra contra Filipe. Os dárdanos e os ilírios foram desde o início aliados dos romanos. As frotas de Rodes e Pérgamo actuaram em coordenação com a romana no Mar Egeu e ao largo das costas macedónias.
No Verão de 199 Sulpício atravessa a Ilíria e irrompe na Macedónia do norte. Dada a superioridade numérica dos romanos Filipe recusa-lhes batalha. No Outono os romanos regressam às suas bases ilírias. Filipe aproveita para atacar os dárdanos no norte e, ao sul, os etólios, que haviam penetrado na Tessália.
Na campanha do ano seguinte os romanos tentam fazer junção, já em território grego, com as forças dos etólios. Mas as tropas de Filipe ocupam as passagens montanhosas entre o Epiro e a Tessália, obrigando os romanos a deterem-se nas proximidades do acampamento macedónio.
Chega então ao teatro de guerra o cônsul desse ano de 198, um membro do círculo íntimo dos Cipiões, Tito Quíncio Flamínio, enérgico, hábil e extremamente ambicioso. Admirador ardente da cultura grega, Flamínio resolvera “enfiar-se na pele” de libertador da Grécia do jugo macedónio. Imediatamente após a sua chegada propõe a realização de conversações de paz, apresentando como condição principal a evacuação pelos macedónios de todos os territórios gregos ocupados. Filipe recusa a proposta.
Com a ajuda de guias locais (epirotas), Flamínio consegue penetrar no sistema defensivo macedónio do Epiro, e Filipe retira para o vale de Tempe (actual Tembi), na Tessália. Os romanos seguem-no e reúnem-se aos aliados gregos.
Entretanto a frota aliada abeirara-se de Corinto, a principal praça-forte macedónia na Grécia, e a Liga Aqueia, sob forte pressão, rompia com Filipe, juntando-se aos seus inimigos.
No Inverno de 198/197, apresentando-se a situação bem menos favorável para a Macedónia, Filipe aceita iniciar negociações. Mas não se chega a nenhum acordo.
O isolamento de Filipe aumenta. Mesmo velhos aliados seus, o tirano espartano Nábis e a Beócia, passam-se ao lado contrário. Decidido a travar uma batalha decisiva, Filipe reúne todas as suas reservas, incorporando até os jovens de 16 anos de idade.
Em Junho de 197, na Tessália, sobre as colinas Cynoscephalae (= “cabeças de cão”), dá-se o recontro. As forças eram quase iguais, cerca de 26.000 homens para cada um dos lados. Filipe sofre uma derrota completa, perdendo mais de metade das tropas. Regressado à Macedónia, envia embaixadores a Flamínio para as negociações de paz.
Antíoco encontrava-se então na Ásia Menor, com o exército e a frota. Flamínio receava que o sírio interviesse em auxílio da Macedónia e aceitou as conversações. É convencionado um armistício de 4 meses contra o pagamento de 200 talentos e a entrega de reféns.
O texto definitivo do tratado foi redigido por uma comissão governamental romana de dez membros com a participação de Flamínio. Filipe renunciava a todas as suas conquistas. Abandonava todos os territórios na Grécia. Entregava a frota de guerra, à excepção de algumas naves. Entregava os prisioneiros de guerra e os desertores. Tinha de pagar um tributo de 1.000 talentos, metade de imediato e a outra metade em dez prestações anuais consecutivas. O tratado foi ratificado no ano de 196.
A “LIBERTAÇÃO” DA GRÉCIA.
O primeiro artigo do tratado de paz proclamava a liberdade dos gregos. «Todos os helenos, tanto os asiáticos como os europeus, serão livres e submeter-se-ão às suas próprias leis» (Políbio, XVIII, 44).
Nos jogos ístmicos do Verão de 196, perante uma grande multidão, o arauto anunciara solenemente: «O senado romano e o comandante com poder consular Tito Quíncio, que hão vencido em guerra a Filipe e aos macedónios, dão a liberdade aos coríntios, aos fócios, aos locros, aos egeus, aos aqueus ftiotas, aos magnetes, aos tessálicos, aos fereus, permitindo-lhes não manter guarnições, não pagar impostos e viver segundo a lei dos seus pais» (Políbio, XVIII, 46).
Mas a comissão dos dez, dirigida por Flamínio, redesenhará o mapa político da península balcânica a favor dos seus aliados, sem qualquer consideração pela vontade daqueles que foram integrados nas ligas aqueia e etólia ou sujeitos às dinastias da Grécia e da Ásia Menor.
As guarnições romanas também não abandonaram o território grego, pelo contrário, ocuparam os centros estratégicos, Corinto (Corinthus), Cálcis (Chalcis), Erétria (Eretria), etc. Sete guarnições serão evacuadas em 194, por insistência de Flamínio, devido ao descontentamento que a sua presença suscitava entre os gregos.
A GUERRA COM ANTÍOCO.
Em 196 as forças de Antíoco já se haviam feito presentes na costa da Trácia. No decurso da II guerra macedónia ele ampliara enormemente os seus domínios. Após conquistar a Síria do sul, apoderara-se das possessões egípcias na Ásia Menor, ocupara Éfeso (Ephesum) e Abido, cruzara o Helesponto e tomara as cidades marítimas da Trácia, anteriormente domínio egípcio e, de seguida, domínio de Filipe da Macedónia.
Contudo Antíoco não tinha qualquer intenção de se imiscuir nos assuntos europeus, apenas pretendia restaurar o antigo domínio selêucida.
No Outono de 196 é enviada a Antíoco, ainda na Trácia, uma embaixada. As queixas de algumas cidades livres da Ásia Menor, Lâmpsaco, Alexandria da Tróade, Esmirna, forneceram o pretexto. Os embaixadores fazem saber ao sírio que Roma de modo algum iria aceitar a sua política agressiva.
Políbio (XVIII, 50): «É na realidade caricato – dizia Lúcio (Lúcio Cornélio Lêntulo, o chefe da embaixada) – que Antíoco, que chegou depois da guerra com Filipe, se haja apoderado do fruto das vitórias romanas. O chefe da embaixada romana exigiu também o reconhecimento das cidades livres e, por fim, disse que não compreendia quais eram as intenções com que o rei tinha vindo à Europa à cabeça de forças marítimas e terrestres tão numerosas, coisa que qualquer pessoa inteligente interpretaria como um preparativo de guerra contra os romanos».
Antíoco respondeu-lhes que as pretensões romanas sobre as cidades da Ásia Menor não tinham qualquer fundamento e pediu aos romanos que não se intrometessem nos assuntos da Ásia, tal como ele se abstinha de intervir nos de Itália. Quanto à sua vinda à Europa, explicou que ela apenas se devia ao seu desejo de retomar as possessões dos seus antepassados, o Quersoneso da Trácia e as cidades da costa trácia.
Em 197 morrera Átalo de Pérgamo, velho amigo de Antíoco e aliado dos romanos, que mediara a resolução de vários conflitos entre as duas partes. Sucedeu-lhe Êumenes II, que temia o crescimento do poderio sírio e se aproximou ainda mais dos romanos.
Em 195 Aníbal chega ao palácio de Antíoco. No ano anterior fora eleito Súfete num ambiente de agitação popular, provocado pela má e corrupta administração da oligarquia cartaginesa. Aníbal promovera então uma série de reformas de saneamento da organização estadual de Cartago, organizara o concelho dos 104 com base em eleições anuais e efectuara uma ampla reforma financeira.
A oligarquia, vendo que perdia terreno e influência, “informa” Roma que Aníbal havia estabelecido relações com Antíoco e que preparava uma nova guerra. O senado aproveitou a oportunidade para se desfazer do velho inimigo e enviou três embaixadores a Cartago com esse propósito (em 195).
O objectivo oficial da embaixada era o de regular as relações entre Cartago e Masinissa. Mas, compreendendo que o iam entregar aos romanos, Aníbal foge de noite numa nave, dirigindo-se primeiro a Tiro, depois a Éfeso, à corte de Antíoco, que o recebe com grandes mercês.
Na Grécia fazia-se sentir a pesada mão de Roma. O senado adoptara ali a mesma política já praticada com os Estados aliados ou sob tutela, apoiando-se nos estratos mais ricos da população. Nas cidades da Tessália, por exemplo, Flamínio repusera o governo timocrático. Como é evidente, isto provocou um profundo descontentamento nos círculos democráticos das cidades gregas.
Desde há muito a crise social e económica flagelava a Grécia e a guerra agudizou-a ainda mais. Políbio e Plutarco descrevem um quadro de desolação em Esparta, na Etólia, Beócia e noutras regiões: ruína das camadas médias, dívidas, enorme aumento da miséria, corrupção dos aparelhos estaduais, decadência dos costumes. Tais condições levaram as massas à exasperação. Houve movimentações populares reclamando a anulação das dívidas e a divisão da terra e houve também violentas revoltas, em que a plebe massacrou os ricos e dividiu entre si as suas propriedades, as suas mulheres e filhos. A tirania de Nábis em Esparta, disso exemplo, foi uma ditadura dos párias da sociedade, lumpemproletários, escravos, mercenários, piratas.
Flamínio não tivera qualquer rebuço em aliar-se com Nábis contra Filipe. Mas, terminada a guerra, os romanos juntam-se aos aqueus e a Pérgamo contra o ditador. Vencido, Nábis teve de ceder uma parte dos territórios do seu Estado.
Os etólios haviam aceite muito mal o acordo de paz de 196, pois apenas conseguiram recuperar os territórios perdidos na I guerra macedónica. Diziam que a proclamação do senado sobre a liberdade da Grécia eram apenas palavras ocas, que, de facto, não se ganhara a liberdade, somente se havia mudado de amo.
Nos finais da primeira década do século todos os movimentos gregos da oposição começam a voltar-se para o rei sírio, considerando-o como a única força capaz de enfrentar Roma na península balcânica.
Em 193 a Liga Etólia tenta criar uma coligação anti-romana com Antíoco, Filipe e Nábis. Mas Antíoco não estava preparado para uma guerra e Filipe não quis formar bloco com os etólios e Antíoco. Apenas Nábis aceita a proposta e inicia, intempestivamente, uma guerra contra a Liga Aqueia.
O senado, alarmado com o ambiente político anti-romano, envia uma esquadra e dá instruções a Flamínio e aos comissários romanos para que tentassem resolver, se possível, o assunto de modo pacífico.
O estratego aqueu Filopómenes derrota Nábis e incorpora Esparta na Liga Aqueia (ano de 192).
Nábis será assassinado pouco depois pelos seus próprios aliados etólios.
Os etólios proclamam então Antíoco chefe supremo da sua Liga e pedem-lhe que intervenha imediatamente. Aníbal era de opinião contrária, tendo aconselhado Antíoco a concertar previamente aliança com Filipe. Deveria desembarcar depois na Grécia, com grande quantidade de tropas, e preparar dali o ataque contra a Itália. Enquanto isso ele (Aníbal) iria a África com uma frota e um exército de desembarque, para sublevar Cartago e atacar de seguida na Itália do sul.
Antíoco não aceitou o plano de Aníbal. As suas intenções não iriam além da restauração do antigo poder dos selêucidas e, como os romanos se opunham às suas pretensões, apenas pretendia tirar-lhes de uma vez por todas a vontade de se imiscuírem nas questões orientais. Pensava consegui-lo derrotando os romanos na Grécia.
No Outono de 192 desembarca em Demetríade (Demetrias), na Tessália, com apenas 10.000 infantes, um pequeno esquadrão de cavalaria e 6 elefantes. Fazendo junção com os etólios, Antíoco ataca os romanos em Délio (Delium), na Beócia.
Além da Etólia, põem-se ao lado de Antíoco a Beócia, a Eubeia, a Élida e a Messénia. Mas os reforços proporcionados pelos gregos foram muito inferiores ao que o sírio esperava.
Os romanos eram apoiados pela Liga Aqueia e por Atenas. Filipe também se lhes juntara. Os romanos haviam-lhe devolvido os reféns, tinham-no libertado do pagamento do tributo e prometeram-lhe ganhos territoriais.
Nos inícios de 191 chegam a Apolónia 20.000 infantes, 2.000 ginetes e 15 elefantes ao mando do cônsul Mânio Acílio Glabrião, um amigo de Cipião. A frota permaneceu junto às costas itálicas.
Com o grosso das suas forças Acílio marcha para a Tessália, onde os macedónios e um esquadrão de vanguarda romano já haviam entrado em combate. À aproximação dos romanos Antíoco retira-se para as Termópilas (Thermopylae). Ali, em Abril de 191, os romanos atacam-no com forças superiores. Antíoco foge com os restos do seu exército para Cálcis, dali zarpando para Éfeso.
Quase todos os seus aliados gregos se submetem de imediato a Roma. Apenas os etólios continuarão a lutar.
Preparando o ataque na Ásia, os romanos tratam de assegurar o domínio sobre o Mar Egeu. A frota romana sob o mando do pretor Caio Lívio Salinator parte para as costas asiáticas. Rodes, Pérgamo e as grandes ilhas aliam-se a Roma, proporcionando-lhe as bases navais de que necessitava.
Nos finais de 191, no Cabo de Córico (Corycus), frente a Quio, as esquadras reunidas de Roma e Pérgamo derrotam as forças navais sírias.
Públio Cornélio Cipião fora eleito cônsul em 194 e a regra do intervalo de dez anos para a reeleição voltara a vigorar após a II guerra púnica. Não podia por isso propor-se ao cargo para o ano de 190.
Para tornear o problema, são eleitos cônsules desse ano o irmão, Lúcio Cornélio, e o seu amigo Caio Lélio. Na divisão das províncias, Lélio cede a Grécia a Lúcio. Cipião o Africano acompanharia o irmão na expedição (provavelmente sem qualquer cargo oficial).
Na Grécia continuava a guerra contra os etólios. Tratando de libertar as forças romanas ali empenhadas, Cipião concerta com os etólios, por intermédio dos atenienses, um armistício de 6 meses e inicia negociações de paz.
Logo após, o exército romano, acompanhado dos seus aliados aqueus e macedónios, atravessa a Macedónia e a Trácia e passa à Ásia Menor. A operação foi apoiada pelas frotas de Rodes e Pérgamo, que se apoderaram da cidade de Sestos, no Helesponto.
Tratando de reforçar a sua frota, Antíoco procura retomar o domínio do mar. Na Fenícia é formada uma esquadra ao mando de Aníbal, que ruma a norte, para se juntar à armada síria no Egeu. Junto das costas da Panfília (Pamphylia) os ródios derrotam Aníbal, que perde 20 naves (Agosto de 190). Aníbal não voltará a ter parte activa na guerra.
Apesar deste desaire, Antíoco decide arriscar batalha naval com as suas forças principais, então em Éfeso. O embate deu-se junto ao Cabo Myonnesus, não longe do local onde se travara o combate do ano anterior.
Os romanos eram comandados pelo pretor Lúcio Emílio Regilo e dispunham de 80 naves. Os sírios, de 89. A frota síria perde 40 navios e retira para Éfeso (Setembro de 190), ali permanecendo até ao fim da guerra.
Entretanto Antíoco reunira na Ásia Menor grandes contingentes, vindos de todas as regiões do seu reino. Contudo, temeroso, propõe aos romanos negociações de paz. Estava disposto a deixar a Europa, a dar a liberdade a algumas cidades gregas da costa da Ásia Menor e a pagar metade das despesas de guerra. Cipião responde-lhe que a paz só lhe seria concedida se abandonasse toda a Ásia Menor e pagasse todos os gastos de guerra. As negociações são suspensas.
A batalha decisiva ter-se-á dado, provavelmente, no começo de 189 (ou em finais do Outono de 190), na planície a leste da cidade de Magnesia (na Lídia).
Os romanos dispunham de cerca de 30.000 homens. Antíoco contaria com quase 70.000, entre os quais 16.000 de infantaria pesada (falange), 12.000 ginetes, 20.000 soldados de infantaria ligeira, 54 elefantes e numerosos carros armados com lâminas laterais.
Os romanos conheciam a heterogénea composição do exército inimigo, que juntava mercenários gregos e súbditos macedónios a contingentes mal adestrados das regiões meridionais e orientais do imenso reino.
No momento da batalha Cipião encontrava-se doente e o exército ficou ao mando do ex-cônsul Gneu Domício.
À cabeça da cavalaria, Antíoco atacou a ala esquerda da formação romana. Ao mesmo tempo, Êumenes do Pérgamo, no comando da ala direita, repelira os carros de assalto e passara ao contra-ataque com toda a massa da cavalaria, desarticulando o flanco esquerdo sírio. A falange, no centro, é atacada pelos legionários, que lançam sobre os sírios uma chuva de dardos; os elefantes, dispostos nos intervalos da falange, espantam-se, transformando a temível falange numa multidão desordenada.
As perdas sírias, incluindo os prisioneiros, terão sido superiores a 50.000 homens. Os romanos sofrem um pouco mais de 300 mortos.
Antíoco aceitou todas as condições que os romanos lhe impuseram. O tratado de paz foi elaborado pelo senado no Verão de 189, tendo participado todos os aliados. O texto final foi aprovado no Verão de 188, na cidade de Apameia (Apamea, na Frígia), por uma comissão senatorial plenipotenciária de dez membros.
Antíoco renunciou a todas as possessões europeias e na Ásia Menor. Tinha de pagar 15.000 talentos em doze anos. Era-lhe interdito possuir elefantes de guerra e a sua frota foi reduzida a 10 naves. Comprometia-se ainda a entregar todos os inimigos de Roma a que dera acolhida, Aníbal entre eles.
Os aliados foram generosamente premiados, Êumenes em particular. Pérgamo obteve o Quersoneso da Trácia, a Lídia, a Frígia, partes da Cária e da Panfília e algumas cidades gregas da Ásia Menor (cidades marítimas), entre as quais Éfeso, tornando-se assim o Estado mais importante da Ásia Menor. Rodes recebeu partes da Cária e da Lícia. Algumas das cidades gregas da Ásia Menor foram declaradas livres.
Quanto à Etólia, terminado o armistício, recomeçou a guerra, com o senado a ordenar o fim das negociações e a exigir a rendição incondicional.
A cidade de Ambrácia (Ambracia), no Epiro meridional, converte-se no centro da resistência da Liga Etólia e os romanos sitiam-na. Entretanto os macedónios invadiam os territórios da Liga.
A cidade resistiu heroicamente e, quando os atenienses e os ródios interpuseram os seus bons ofícios, o senado “amaciou” a sua posição.
Ambrácia foi entregue aos romanos. Os etólios reconheciam a autoridade do povo romano, renunciavam a todas as possessões perdidas desde o início da guerra (ano de 192), entregavam todos os prisioneiros e desertores e tinham de pagar 200 talentos de tributo. Como garantia do cumprimento do tratado entregaram quarenta reféns por seis anos.
De Ambrácia, antiga capital de Pirro, os romanos levaram muitas obras de arte.
Instaurara-se, pois, a hegemonia romana no Oriente grego.
Quanto ao Egipto, no fim das guerras macedónica e síria, havia perdido quase todos os domínios que possuía para lá do vale do Nilo, com as excepções da Cyrenaica e de Chipre.
A monarquia selêucida nunca mais pôde recuperar-se do golpe sofrido. As suas finanças foram exauridas pelo gigantesco tributo e, à notícia da derrota de Antíoco, estalam uma série de revoltas que lhe fizeram perder o domínio de facto sobre as províncias orientais. Antíoco morreu em 187 na luta contra a rebelião.
Durante o reinado do seu sucessor a monarquia síria vai paulatinamente entrando no ocaso. Os romanos fizeram tudo o que lhes foi possível para a debilitar, desde a pressão diplomático-militar, no respeitante à política exterior síria, até ao apoio dado a um usurpador e à ingerência directa nos assuntos familiares da casa reinante.
Intervieram também na política exterior e interna dos pequenos Estados helénicos, não lhes permitindo tomar nenhuma medida importante sem a sua aprovação.
Procuraram sobretudo impedir a formação de alianças.
O FIM DA CARREIRA POLÍTICA DE CIPIÃO. A SUA MORTE.
Em 187, logo após o regresso triunfal dos dois Cipiões (Lúcio foi chamado “o Asiático”), dois tribunos da plebe reclamam do senado a prestação de contas pelas somas recebidas de Antíoco. Públio apresenta alguns documentos mas, em vez de render contas, rasga-os diante dos senadores.
Nos finais de 185 ou começos de 184, um outro tribuno de plebe retoma o assunto, já não perante o senado, mas ante a assembleia popular. Públio dirige-se à assembleia, dizendo que esse era justamente o dia do aniversário da sua vitória sobre Aníbal, com a qual havia devolvido a liberdade ao povo romano, e convida todos a reunirem-se no Capitólio para homenagearem os deuses. A multidão, comovida, terá seguido Cipião, deixando o seu acusador a falar sozinho no forum. Mas, desta vez, de nada serviu a demagogia a Cipião, pois a acusação seguiu os seus trâmites legais e, em assembleia posterior, o seu irmão, Lúcio, é condenado a pagar uma volumosa multa. Como se tivesse recusado a fazê-lo, foi ameaçado de prisão. Tibério Semprónio Graco (o pai dos futuros reformadores), um dos tribunos da plebe, conseguiu evitar-lhe esse opróbrio.
Públio, profundamente ofendido, retirou-se para a sua propriedade de Campânia, onde falece (provavelmente) em 183, declarando à hora da morte que não queria ser sepultado em Roma.
Regra geral, os comandantes militares dispunham do despojo de guerra quase sem nenhum controle. Porquê então o ataque aos Cipiões? Os seus acusadores visariam, não tanto a punição de um caso de corrupção, mas, sim, assestar um golpe de morte na sua já titubeante carreira política. Argutamente, não tomaram como alvo directo o próprio Públio, ainda muito popular, preferindo-lhe Lúcio, cujo único mérito era ser “irmão do seu irmão”.
Que raízes teria a oposição ao grupo dos Cipiões?
Públio e o seu séquito gozaram por muito tempo de uma posição de privilégio. Durante os dez anos que se seguiram à batalha de Zama, representantes da estirpe dos Cornélios ocuparam por sete vezes o cargo de cônsul, e os outros magistrados, quando não pertenciam à sua gens, estavam-lhes estreitamente vinculados. As duas guerras mais importantes no Oriente foram ganhas por membros desse círculo. Os Cipiões e a nobreza a eles ligada exerceram de facto uma espécie de ditadura.
O chefe da oposição aos Cipiões foi também um nobre, Marco Pórcio Catão, que já havia apresentado acusações contra alguns dos membros do círculo em 191 e em 190. Por fim, em 189, apresentou-se-lhe a ocasião propícia para acabar com o domínio desse pequeno grupo, um poder surgido do ambiente de guerra.
Uma grande parte da nobreza romana opôs-se a Públio para pôr fim a um regime inconstitucional de ditadura de facto, tal como o fizeram os democráticos.
Mas uma outra área do conflito radicava no programa de política exterior. E aí não havia divergência substancial entre Cipião e a maioria da nobreza. Durante cerca de vinte anos essa política havia gozado do apoio do senado. Neste ponto a divergência era sobretudo entre o círculo de Cipião e o novo partido democrático. Os três tratados de paz ditados por Cipião (com Aníbal, Filipe e Antíoco) haviam sido, na opinião desse partido, demasiado brandos.
Se uma parte considerável da nobreza vivia essencialmente das suas possessões agrícolas na Itália e da massa dos seus clientes, numa economia de carácter natural e, precisamente por isso, estava pouco interessada na redução a províncias dos países submetidos, alguns nobres e outros grupos sociais, pelo contrário, desejavam-no: os grandes proprietários, como Catão, que estavam vinculados à produção mercantil e exploravam em grande escala o trabalho escravo; os publicanos, que arrendavam ao Estado os impostos e gravames; o crescente subproletariado e outros grupos ligados ao novo movimento democrático.
Catão mostrou-se um inimigo acérrimo da posição dos Cipiões de não redução a províncias dos países conquistados; por muitos anos repetirá incansavelmente que Cartago deveria ser destruída (o que Públio Cornélio não fez). Ele não era um democrático, bem pelo contrário, era um furioso conservador, defensor da tradição e inimigo da civilização grega, e não tinha o menor desejo de pôr em causa os privilégios do governo senatorial. Porém, a sua posição económica, como representante da nova classe dos grandes esclavagistas (parte dos nobres e os equites), colocou-o também em oposição àquele aspecto da política exterior dos Cipiões. Daí que se tenham congregado em torno de Catão vastos sectores democráticos que, juntos com uma parte da nobreza (a que se incluía entre os grandes esclavagistas, como Catão, e também sectores da nobreza “tradicional”), foram quem pôs fim à carreira política de Públio.
A MORTE DE ANÍBAL.
Após a paz de Apamea, em 188, dirigira-se a Creta e dali à Bitínia, onde foi bem recebido por Prúsias, tornando-se seu conselheiro militar e comandante do exército.
Em 184 os romanos conseguem concertar a paz entre Êumenes do Pérgamo e Prúsias. Logo depois Flamínio chegará à Bitínia como embaixador de Roma. O romano há-de ter pedido a Prúsias a eliminação do velho inimigo. Um dia (ao que parece, em 183), a casa onde Aníbal vivia é rodeada por homens armados. Aníbal, para não cair às suas mãos, terá ingerido um veneno que sempre trazia consigo.
A TERCEIRA GUERRA MACEDÓNICA.
Filipe não se contentara com fortalecer-se à custa da Liga Etólia, apoderando-se também de Demetríade e de um grande número de cidades tessálicas, de algumas cidades da costa trácia, etc.
Já pela paz de 189 os romanos haviam visado manter a Liga Etólia como contrapeso ao poder macedónico.
Seis anos mais tarde, com base nos protestos de Êumenes e de outros inimigos gregos de Filipe, Roma obriga Filipe a abandonar as cidades da Trácia e algumas regiões da Grécia. As relações tornaram-se então tão tensas que Filipe teve de enviar a Roma uma embaixada extraordinária, encabeçada pelo seu filho Demétrio (vivera anteriormente alguns anos em Roma, como refém), bem-visto pelos romanos, que o desejavam atrair para a sua órbita de influência (o sucessor no trono era Perseu, o primogénito; a protecção romana a Demétrio provocará a sua condenação à morte em 181).
Filipe procura então expandir-se na Trácia interior. Depois de várias campanhas, alarga a sua influência nessa região e celebra um tratado de aliança com as tribos de além Danúbio.
Em 179 morre, deixando a Perseus um Estado militarmente forte e bem organizado.
Perseu estabelecera óptimas relações com Prúsias II da Bitínia e Seleuco IV da Síria, de quem era genro. Os ródios eram seus amigos, os bastarnos, seus aliados (Bastarnae; um povo da Dácia) e entre os príncipes ilírios a influência macedónia suplantava a de Roma.
Abandonando a política de hostilidade que o pai sempre havia seguido, Perseu procurou o apoio dos gregos.
Com o correr dos anos crescera na Grécia o ódio aos romanos, tanto nas classes baixas como entre as classes altas. Aproveitando a conjuntura, Perses (a outra designação latina do seu nome) decide apresentar-se como o novo “salvador”. Faz proclamar na Grécia que os perseguidos por motivos políticos ou por dívidas seriam acolhidos na Macedónia, prometendo ainda aos refugiados reintegrá-los nos seus direitos e restituir-lhes as suas propriedades. Com esta política demagógica Perseu terá alienado as classes possidentes, lançando-as nos braços do partido pró-romano.
Em 172 Êumenes vai a Roma apresentar as suas queixas contra Perseu. O senado decide-se então pela guerra com a Macedónia. Na viagem de regresso a Pérgamo, Êumenes é vítima de um atentado em Delfos, que logo foi atribuído a Perseu.
Os romanos prepararam cuidadosamente a guerra a nível militar e diplomático. Quando a iniciam, em 171, Perseu estava completamente isolado.
A Liga Aqueia, como sempre, apoiava os romanos. Os etólios, que pouco tempo antes solicitavam a ajuda de Perseu, haviam mudado bruscamente de opinião. Na Tessália o partido pró-romano detinha o poder. Mesmo a Beócia, durante muito tempo aliada da Macedónia, se afastou de Perseu.
O mesmo acontecera entre os seus amigos não gregos. Roma contava com o apoio das cidades livres da Ásia Menor, de uma parte dos ilírios, de Rodes, Bizâncio, etc. Prúsias II permaneceu neutral e Antíoco IV, irmão e sucessor de Seleuco IV, seguindo a “tradição”, aproveitou a ocasião para atacar o Egipto.
No entanto, no primeiro confronto importante, na Tessália, a cavalaria e a infantaria ligeira romanas sofrem uma derrota. Em vez de explorar esse êxito, Perseu procurou entabular negociações de paz. Mas os romanos exigiram-lhe a rendição incondicional.
O mando romano não estava à altura da situação, e os soldados provocaram o descontentamento da população com as suas violências e queixas por parte dos aliados. Contudo, apesar das circunstâncias se lhe apresentarem favoráveis, Perseu retirou da Tessália para a Macedónia.
As duas campanhas seguintes, em 170 e 169, não deram vantagem a qualquer das partes.
Nesses dois anos Perseu desenvolveu uma intensa actividade diplomática, alcançando alguns êxitos, devidos sobretudo ao reaparecimento da frota macedónia no Egeu e à aparente incapacidade de Roma em ganhar a guerra.
Em 168 os ródios, cujo comércio sofria grandes perdas com a guerra, tentam mediar o termo do conflito, mas o resultado que obtêm é precisamente o oposto, com o senado a tomar a decisão de intensificar a guerra.
Um dos cônsules eleitos para 168 foi Lúcio Emílio Paulo (filho do Emílio Paulo caído em Canas). Um homem sem fortuna, ainda que pertencendo à velha nobreza, e sem grande influência na vida política (teria, talvez, vínculos de parentesco com os Cipiões). Mas gozava da fama de ser um excelente chefe militar, tendo-se revelado como tal nas guerras espanholas e lígures, e de possuir uma honestidade a toda a prova.
Chegado ao teatro de operações rapidamente restabelece a disciplina e passa à acção ofensiva. Circundando as posições de Perseu na Macedónia do sul, obriga-o a retirar para a cidade costeira de Pydna.
A 22 de Junho de 168 dá-se a batalha que pôs fim à monarquia macedónia.
O primeiro choque da falange macedónia destroçou a frente romana e obrigou as legiões a retirar para as elevações próximas do acampamento romano. Na perseguição, naquele terreno acidentado, as fileiras da falange desarticulam-se e Emílio passa ao contra-ataque. Lançando os manípulos nos espaços abertos entre os macedónios, ataca-os nos flancos e pela retaguarda, acabando por lhes romper de todo a formação. A cavalaria macedónia, estranhamente, permaneceu inactiva e, ao ver a infantaria ser derrotada, afastou-se do campo de batalha. Perseu, apenas se preocupando com a salvação dos seus tesouros, foi o primeiro a pôr-se em fuga.
Em menos de uma hora tudo terminara. 20.000 macedónios caem no campo de batalha e 11.000 são feitos prisioneiros. As perdas dos romanos foram insignificantes.
Perseu foge com o seu ouro (mais de 6.000 talentos) para Samothracia (ilha do norte do Egeu), na vã esperança de gozar do direito de asilo sagrado. Mas é obrigado a entregar-se com todas as suas riquezas e os seus dois filhos. Internado na Itália, ali morrerá passados alguns anos. O primogénito, Filipe, morre dois anos após o pai. O seu filho mais novo tornar-se-á um simples escrivão.
Apesar da queda dos Cipiões, a sua política foi mantida e a Macedónia não se transformou em província.
A monarquia foi destruída e o país foi dividido em quatro repúblicas “independentes”, completamente isoladas umas das outras. Os habitantes de cada república não podiam contrair matrimónio nem estabelecer comércio com os das restantes. Todas as relações entre elas eram interditas. Em cada uma Roma colocou no poder a parte da aristocracia que lhe era fiel. A metade dos impostos pagos anteriormente aos reis passa agora a ser arrecadada pelos romanos. Foi proibido aos macedónios trabalhar o ouro e a prata, exportar madeira e importar sal. A população foi desarmada e as fortalezas desmanteladas.
Segundo este mesmo modelo são constituídas outras três repúblicas na Ilíria.
O Epiro, que apoiara Perseu, teve “direito” a um tratamento particular. Por ordem do senado, em 167, setenta distritos são saqueados e 150.000 habitantes reduzidos à escravatura. O saque foi tal que em Roma será abolido, por muito tempo, o imposto directo sobre os cidadãos.
Destruída a Macedónia, Roma já não necessitava de amigos e aliados no mundo grego.
Se bem que a Grécia haja continuado a ser nominalmente “livre”, perdeu os últimos restos da sua independência.
A Liga Etólia foi reduzida ao território da própria Etólia e os partidários dos macedónios foram em parte entregues aos seus inimigos políticos, em parte levados para Roma.
Em todos os Estados gregos os elementos suspeitos foram feitos reféns e enviados para a Itália. Nem a Liga Aqueia escapou, 1.000 nobres aqueus, entre os quais Políbio, são internados em diferentes cidades italianas.
A Rodes é arrebatada grande parte das suas possessões no continente e o seu comércio sofre um duro golpe com a proibição do comércio da madeira e do sal macedónios. A catástrofe chega quando Delos é declarada porto livre.
Os romanos expulsaram os habitantes desta ilha e entregaram o porto aos atenienses, sendo o seu comércio isento de todos os impostos e taxas. O comércio do Mediterrâneo oriental passou a fazer-se através de Delos. No decurso de um só ano, as receitas aduaneiras de Rodes diminuíram de um milhão para cento e cinquenta mil dracmas.
O próprio Êumenes de Pérgamo, o fiel amigo, cai em desgraça, nada tendo recebido no final da guerra. Roma apoiará contra Êumenes o seu irmão Átalo e chegou até a instigar-lhe os súbditos a sublevarem-se. Quando Êumenes se desloca a Roma para tentar esclarecer os mal-entendidos (acusavam-no de ter mantido contactos secretos com Perseu) dão-lhe a perceber que a sua presença não era grata.
Exemplo da atitude que Roma tomou no Oriente, “no após 168”, foi a sua intervenção na guerra entre a Síria e o Egipto. Antíoco IV chegara em 168 ante as muralhas de Alexandria e os egípcios pediram a ajuda de Roma, que envia de imediato um embaixador, Caio Popílio. Este apresenta-se perante o sírio e transmite-lhe a ordem do senado: restituir tudo quanto havia conquistado e retirar-se do Egipto. Havendo Antíoco IV pedido algum tempo para reflectir, Popílio traça com uma cana um círculo à volta do monarca sírio e exige-lhe que desse a resposta sem dali sair...Antíoco terá obedecido.
A SUJEIÇÃO DA MACEDÓNIA E DA GRÉCIA.
Na Macedónia reinava a miséria e a desordem. Em 149 surge um impostor. Fazendo-se passar por Filipe, o falecido primogénito de Perseu, consegue que o reconheçam como rei. Estala então a sublevação contra Roma.
O pseudo Filipe era Andrisco, um simples artesão trácio, muito parecido com Perseu. A tradição narra sobre ele uma autêntica novela. Terá sido mercenário na Síria, onde se apresentou ao rei de então, Demétrio, dizendo-lhe ser seu sobrinho pela parte da mãe (Perseu casara com a princesa síria Laódice, filha de Seleuco IV; o primogénito, Filipe, era filho desse casamento). Demétrio tê-lo-á enviado sob prisão para Roma. Confinado numa cidade itálica, Andrisco arranja maneira de fugir para Mileto, onde é preso de novo. Havendo as autoridades da cidade perguntado ao legado romano o que fazer com ele, este tê-las-á aconselhado a deixá-lo ir em liberdade. Andrisco volta depois à Trácia, onde consegue fazer-se reconhecer por alguns príncipes. Com o seu apoio o pseudo Filipe invade a Macedónia, derrotando em duas batalhas as milícias locais.
O movimento de revolta anti-romano foi crescendo e a própria Tessália é atacada, tendo para se defender apenas as forças da milícia aqueia e contingentes de Pérgamo. Por fim chega um pretor romano com uma legião. Apesar das suas forças serem pouco numerosas, o romano decide atacar Andrisco. No combate o pretor morre e o seu exército é completamente destruído. Uma grande parte da Tessália cai nas mãos do pseudo Filipe.
Em 148 é enviado para a península balcânica um grande exército sob o comando do pretor Quinto Cecílio Metelo, que contava com o apoio da frota de Pérgamo. Invadida a Macedónia, as forças de Andrisco começam a desagregar-se. Vencido em batalha, foge para a Trácia, onde de novo é derrotado e acaba por ser entregue aos romanos.
Após ter percorrido as ruas de Roma no cortejo triunfal de Metelo, Andrisco foi supliciado.
Metelo, executando as decisões de uma comissão senatorial ali enviada (em 148/147), transformou a Macedónia em província romana, incluindo nela o Epiro e a Ilíria meridional, com as cidades de Apolónia e Epidamno.
Na Grécia, a única força político-militar importante que restava era a Liga Aqueia. À época gerou-se uma querela interna sobre os limites e o grau de autonomia de Esparta, membro da Liga. Como não chegassem a acordo, submeteram a questão ao senado romano, que prometeu enviar uma comissão.
Mas a Liga, considerando que a situação internacional lhe era favorável (sublevação na Macedónia, rebelião nas Espanhas, início da guerra entre Roma e Cartago), resolve não esperar pela decisão do senado e ataca Esparta, apesar das advertências de Metelo.
O senado decide castigar os aqueus e envia uma comissão senatorial que separa da Liga o Estado de Esparta, Corinto, Argos e algumas outras cidades. Quando esta decisão é conhecida numa assembleia da Liga, em Corinto, no Verão de 147, rebenta a indignação. Todos os espartanos que se encontravam na cidade são presos e os próprios embaixadores romanos a custo escaparam.
Os chefes da Liga, Critolau e Dieo, começam a preparar-se para a guerra (Inverno de 147/146). A Beócia, a Lócrida (Locris; uma região da Etólia), a Fócida (Phocis; região entre a Beócia e a Etólia) e Cálcis juntam-se à Liga. A agitação democrática espalha-se. Os chefes democráticos diziam que os ricos se haviam vendido a Roma; que era necessária uma ditadura militar e que estava próxima a rebelião geral dos povos contra Roma. As dívidas deixam de ser pagas.
Na Primavera de 146 começa a guerra, tendo o senado confiado o comando ao cônsul Lúcio Múmio.
Ainda antes da chegada de Múmio à Grécia, já Metelo, vindo da Macedónia, derrotara na Lócrida o exército de Critolau. Os romanos esmagaram rapidamente a rebelião na Grécia central.
Múmio chega e assume o comando. Dieo, que sucedera a Critolau, concentra no Istmo de Corinto todos os homens capazes de pegar em armas, juntando-lhes 12.000 escravos libertos. No Peloponeso reinava então o terror: os bens dos ricos eram confiscados; os que defendiam a paz com os romanos, executados.
A batalha travou-se sobre o Istmo. A infantaria aqueia combateu com valentia, mas não pôde resistir à avassaladora superioridade numérica dos romanos. Dieo foge para a sua terra e, após dar a morte à esposa, envenena-se. As cidades da Liga Aqueia rendem-se sem qualquer resistência e Múmio entra em Corinto.
“Assistido” pela habitual comissão senatorial, o cônsul tratou de redesenhar a Grécia. Todas as Ligas inimigas foram dissolvidas (a Aqueia e as da Beócia, Eubeia, Fócida e Lócrida). As comunidades citadinas são isoladas (a título de exemplo, era interdito possuir simultaneamente propriedades em mais de uma cidade). As constituições foram abolidas, sendo instituído o censo. Os que haviam participado na rebelião foram obrigados a pagar tributo a Roma e ficaram na dependência do legado da Macedónia, que lhes tutelava a administração e a justiça.
Assim, uma grande parte da Grécia é unida à província da Macedónia. Os que não haviam aderido à rebelião (Acarnânia, Etólia, Tessália, Atenas, Esparta) mantiveram as relações de aliança com Roma, mas, de facto, a sua independência será agora muito menor.
A repressão foi terrível nas grandes cidades rebeldes: Tebas, Cálcis e Corinto. As muralhas de Tebas e de Corinto são destruídas e as suas populações desarmadas. Os habitantes sobreviventes são reduzidos à escravatura, as obras de arte levadas para Roma e Itália. A cidade de Corinto, o principal centro da rebelião, foi completamente arrasada.
Mas Corinto não terá sido destruída apenas para servir como exemplo, a sua destruição não terá sido apenas uma medida preventiva contra futuras rebeliões.
Vinte e dois anos antes Delos fora declarado porto livre, arruinando o comércio de Rodes. Nesse mesmo ano de 146 é arrasada Cartago. Nos territórios onde se erguiam Corinto e Cartago foi proibido a quem quer que fosse habitar.
Corinto era o único centro comercial de importância que restara na península balcânica. Podemos deduzir que a sua destruição se deveu sobretudo à influência dos mercadores e financeiros romanos. Em duas décadas eles conseguiram eliminar os seus três mais fortes competidores: Rodes, Corinto e Cartago. O tráfico comercial que passava por Corinto transferiu-se para Delos, que se converteu no centro do comércio romano no Oriente.
Com tais medidas o senado demonstrava já haver-se convertido num instrumento da política exterior do capital comercial e usurário romano.
A TERCEIRA GUERRA PÚNICA E A DESTRUIÇÃO DE CARTAGO.
Cartago ainda dispunha de um vasto território, que se estendia, a leste, até à Cirenaica. Os seus recursos permitiram ao Estado cartaginês recuperar rapidamente. E o partido no poder procurou viver em paz quer com Roma quer com o vizinho Masinissa.
Em 153 Catão passara algum tempo em Cartago, na qualidade de chefe de uma embaixada encarregada de regular os diferendos entre Cartago e o númida. Dera-se conta in loco do florescimento da cidade. Terá sido então que enunciou a sua célebre consigna, «ceterum censeo Carthaginem esse delendam» (“quanto ao resto, sou de opinião que se aniquile Cartago”), com que sempre terminava as suas intervenções no senado.
No tratado de 201 os limites entre a Númida e Cartago não haviam sido (intencionalmente) definidos, o que provocou intermináveis litígios e a intervenção constante de Roma. O comportamento de Masinissa foi crescendo em insolência à medida que a política exterior romana se fazia mais e mais agressiva. Por fim os púnicos perdem a paciência. Os chefes do partido democrático sobem ao poder em Cartago e os amigos de Masinissa são expulsos. Em resposta, os númidas penetram em território cartaginês. É enviado contra eles um exército ao mando de Asdrúbal, um dos chefes democráticos, que Masinissa derrota em 150.
Roma já tinha o seu pretexto para declarar a guerra. Os cartagineses haviam violado o tratado de 201. Tinham iniciado operações de guerra sem a autorização dos romanos.
Assustado, o governo cartaginês recua e Asdrúbal é condenado à morte (consegue fugir). É enviada a Roma uma embaixada, que acusa Asdrúbal e o partido militar de toda a culpa pelo sucedido. Mas o senado não aceitou as explicações dos púnicos. Cartago enviará ainda uma segunda embaixada, com plenos poderes, quando a guerra já havia sido declarada e um exército consular fora embarcado (em 149).
Para salvar a cidade o governo cartaginês rende-se incondicionalmente. O senado romano comprometia-se a garantir a liberdade, a terra, os bens e a organização estadual dos cartagineses contra a entrega de 300 reféns, a serem escolhidos entre os filhos das famílias dirigentes, e com a condição de serem cumpridas as ulteriores exigências que os cônsules enunciassem. Os púnicos acedem e entregam de imediato os reféns.
Os cônsules desembarcam em Útica (que já se havia rendido aos romanos) e exigem que lhes sejam entregues todas as armas e abastecimentos militares. Também a isto os púnicos obedeceram.
Completado o desarmamento, os cônsules reclamam a destruição de Cartago: os púnicos podiam escolher o local onde fariam erguer a sua nova cidade, porém, nunca a menos de 80 estádios do mar (cerca de 15 km).
Na cidade o povo enfurecido chacina todos os itálicos, os magistrados púnicos que tinham procedido à entrega das armas e os embaixadores que haviam trazido o ultimato.
Pela sua posição geográfica e pelo seu poderoso sistema de fortificações, Cartago podia defrontar um cerco prolongado, mas estava desarmada. Para ganhar tempo, pedem aos cônsules um mês de tréguas, a pretexto do envio de uma embaixada a Roma. Os cônsules recusam o pedido, no entanto, convencidos de que à cidade seria impossível defender-se, mantiveram-se inactivos.
Asdrúbal, que organizara um novo exército, dominava quase todo o território cartaginês. Amnistiam-no e pedem-lhe a ajuda. Libertam os escravos para os incorporarem na milícia da cidade. Febrilmente, dia e noite, todo o povo forjava armas, construía máquinas bélicas e reforçava as fortificações. As provisões vão-se acumulando. Tudo isto se fez sem que os romanos de nada se houvessem dado conta. Quando os cônsules surgem por fim com o exército diante das muralhas, descobrem, para seu grande espanto, a cidade preparada para a defesa.
Os dois primeiros anos decorreram sem qualquer êxito para os romanos. O exército de Asdrúbal impedia o total bloqueio por terra e os romanos também não conseguiam paralisar a actividade da frota púnica.
Masinissa quase não lhes prestava ajuda, pois que a permanência dos romanos em África não era do seu agrado. Em finais de 149 morre, iniciando-se então a luta pela sua sucessão.
Entre os altos oficiais romanos imperava a incompetência. O único verdadeiramente capaz era Públio Cornélio Cipião Emiliano, filho do vencedor de Pidna (e filho adoptivo de um Cipião). Já se havia distinguido nas guerras das Espanhas e, frente a Cartago, adquirira fama de oficial capaz.
Diz a tradição que Masinissa, já com noventa anos, moribundo, ter-lhe-á pedido que se deslocasse à Numídia para intervir na divisão do poder entre os seus três filhos. Cipião Emiliano teria levado a cabo com êxito essa difícil tarefa diplomática, conseguindo, para além disso, que fossem enviadas tropas auxiliares númidas em ajuda dos romanos.
Em 147 Cipião Emiliano (então com cerca de trinta e cinco anos de idade) é eleito cônsul e, por decreto especial, comandante em África.
Chegando a África com reforços, Cipião começa por expulsar do cerco mercadores, prostitutas e restante gentalha.
Restaurada a disciplina, os subúrbios de Cartago são atacados e tomados de assalto. Ergue-se todo um sistema de obras de assédio, bloqueando completamente a cidade por mar e terra. O exército de Asdrúbal é aniquilado. No Inverno de 147/146 a fome faz a sua aparição na cidade.
Na Primavera de 146 Cipião dá começo ao ataque geral. Os romanos assenhoreiam-se de um sector da muralha e logram entrar no porto, apoderam-se do mercado adjacente e avançam lentamente em direcção a Birsa (Byrsa; a cidadela, fundada por Dido, segundo a lenda). Durante seis dias e seis noites combate-se nas estreitas ruas da cidade. Os cartagineses, com a força do desespero, defendiam-se casa a casa. Os romanos vão abrindo caminho pelo meio de ruínas. Por fim Birsa, no alto de um escarpado rochedo, é sitiada. Ali se haviam refugiado os restos da população, cerca de 50.000 pessoas, que acabam por pedir clemência. Novecentos, na sua maioria desertores romanos, não querendo render-se, suicidam-se. Os outros são reduzidos à escravidão.
O senado envia a usual comissão para “assessorar” Cipião Emiliano nas medidas finais. A maior parte da cidade estava ainda de pé e alguns senadores e o próprio Cipião Emiliano, ao que parece, terão sido partidários de a conservar. Mas é a consigna de Catão (falecido em 149) que prevalece e a cidade é arrasada. Cipião, depois de haver amaldiçoado para toda a eternidade o local, mandou traçar sobre o solo sulcos de arado.
As cidades que haviam apoiado Cartago sofreram a mesma sorte. As outras, como Útica, que se haviam rendido aos romanos no início da guerra, mantiveram alguma autonomia e não viram confiscadas as suas terras.
A maioria dos territórios de Cartago formou a nova província da Africa. Os herdeiros de Masinissa conservaram as suas terras e obtiveram uma parte do território cartaginês.
AS GUERRAS DAS ESPANHAS.
No início do século II as possessões romanas na península estavam organizadas em duas províncias, governadas por pretores, normalmente nomeados para um período de dois anos. A Hispania citerior, compreendendo os cursos médio e inferior do Ebro e uma delgada faixa costeira que se estendia até Nova Cartago, e a Hispania ulterior, formada pelos territórios ao sul da Sierra Morena.
Nas duas províncias havia cidades ligadas por aliança a Roma, como Tarraco (Tarragona) e Gades.
As tribos locais ainda dominavam então a maior parte da península.
No ano de 195 Marco Pórcio Catão, então cônsul, é enviado à península a reprimir uma grande revolta. Entre outras coisas, Pórcio tratou de se apoderar das ricas minas de prata nas cercanias de Cartagena.
Já por volta de 170, a Citerior foi governada por Tibério Semprónio Graco, que procurou atrair a nobreza celtibera para o serviço no exército romano. Após o seu governo a península manter-se-á relativamente calma durante cerca de vinte anos.
Em 154 rebenta nova rebelião, iniciada pelos Lusitani, que depressa se estendeu aos celtiberos da Hispania central e a outras tribos.
A revolta assumiu tais proporções que o senado, para antecipar a partida de um dos cônsules de 153, Quintus Fulvius Nobilior, decide investi-lo no cargo a 1 de Janeiro (em lugar do tradicional 15 de Março). Foi assim que o ano começou nesta data (pois que o ano era consular).
No livro LII de Lívio lê-se: «Na Hispania, Viriato, transformado de pastor em caçador, de caçador em bandido, fez-se chefe de uma autêntica guerra e ocupou toda a Lusitânia.» Em Floro (II): «Este homem, de um profundo engenho, que de caçador se fez ladrão, depois, e de um só lance, de ladrão, capitão e general de exércitos, teria sido, se a fortuna houvesse ajudado, o Rómulo da Hispania.»
Com Viriato, após as matanças traiçoeiras perpetradas por Sérvio Sulpício Galba em 150, os romanos vão sofrer oito anos de derrotas consecutivas na Hispania ulterior (147 – 139). A partir de 145, ano após ano, os cônsules terão de ser enviados à Iberia.
Em 139, enquanto decorriam negociações de paz, os romanos corrompem alguns próximos de Viriato, que o assassinam.
Um outro foco da rebelião situava-se na Hispania setentrional. O cônsul Cecílio Metelo dominara-o quase por completo em 142. Apenas algumas cidades celtiberas, entre as quais Numância (Numantia), a sudoeste do curso médio do Ebro, continuaram a resistir.
Em 137 um grande exército romano comandado pelo cônsul Caio Hostílio Mancino é cercado nas proximidades da cidade, sendo obrigado a render-se. Tibério Graco servia então neste exército como questor e Mancino tê-lo-á encarregado de negociar os termos da capitulação. Tendo-se comprometido o cônsul a cessar a guerra contra Numância, os numantinos consentem a retirada aos romanos. Mas o senado resolveu recusar-se a honrar o tratado.
A guerra continuou, com os romanos a sofrerem uma série de revezes. Por fim o senado decide-se a enviar Cipião Emiliano, que começa por expulsar do acampamento cerca de 2.000 prostitutas. Após ter cuidado do adestramento dos soldados, cerca Numância com uma dupla linha de fortificações. No Outono de 133, vencida pela fome, a cidade rendeu-se. Os sobreviventes do cerco são vendidos como escravos e a cidade é destruída. Fora esmagado o último foco de rebelião nas Espanhas.
Em 130 será anexado o reino de Pérgamo.
(Algumas notas tomadas de Diakov):
Nas vésperas da II guerra macedónia, Filipe V apoderara-se de Sestos, de Abido, das ilhas Cíclades e atacara a Cária e a Lídia, então possessões egípcias.
No tratado final (II guerra macedónia), Filipe V apenas pôde manter um exército de 5.000 homens e 5 naves de guerra.
Na primeira batalha de Metelo contra o pseudo Filipe, na Macedónia, um dos lugar-tenentes de Andrisco terá sido corrompido pelos romanos, tendo-se passado para o seu lado com toda a cavalaria.
Políbio (38, 8-10): «Se todas as cidades foram tomadas de fanáticos furores, Corinto levava a palma a todas, sem distinção de classes».
Na Beócia, Tebas foi o principal centro da rebelião. Quando Critolau foi derrotado, o povo de Tebas refugiou-se nas montanhas, fugindo aos romanos.
Cartago, após a II guerra púnica, desenvolvera consideravelmente o seu comércio com o Oriente, em especial com o Egipto. Comerciava até com o Ponto.