Introdução
Esta narrativa aborda as questões militares da Revolução Francesa. Assim, trata da instituição militar, das suas transformações e do seu relacionamento com um poder político, também este em rápida transformação, das guerras que a França travou, de algumas das batalhas que os exércitos franceses travaram, da organização das forças militares, do seu armamento e equipamento, das suas tácticas. Em resumo, trata-se de um trabalho típico de História Militar.
O pano de fundo que serve de enquadramento a esta narrativa é a Revolução Francesa. No entanto, os exércitos franceses da Revolução atravessaram as fronteiras e chegaram aos territórios do que é hoje a Alemanha, a Áustria e a Itália; lutaram em ambos os lados dos Pirenéus; atravessaram o Mediterrâneo e lutaram no Egipto e na Síria Otomana; chegaram a desembarcar na Irlanda. Houve lutas de Franceses contra outros Franceses. Travaram-se batalhas em terra e no mar. Estes acontecimentos envolveram as forças militares de quase todos os países da Europa.
As Guerras da Revolução Francesa desenrolaram-se, pois, num espaço geográfico que se estende, em terra, para além da Europa e, no mar, nos três principais Oceanos - Atlântico, Índico e Pacífico - e, como sucedeu na generalidade dos conflitos europeus, no Mediterrâneo. Se quisermos definir os limites cronológicos, apenas temos de indicar a data do início das primeiras operações militares e a data em que Napoleão Bonaparte se tornou imperador dos Franceses. Se o conjunto das campanhas militares a que chamamos Guerras da Revolução Francesa terminam com a chegada de Napoleão ao poder ainda como Primeiro Cônsul ou já como imperador, não é relevante. É uma data que define apenas um limite cronológico de uma narrativa mas que não altera em nada a própria narrativa.
Contudo, temos de aceitar que o estudo de um acontecimento ou conjunto de acontecimentos não pode ser limitado às suas fronteiras cronológicas ou geográficas. Esta última referência, o espaço geográfico, fica delimitada pela acção dos próprios exércitos franceses que participaram nos acontecimentos para além das suas fronteiras. A primeira referência, o tempo cronológico, terá de ser transposta pelo narrador porque nenhum acontecimento será inteiramente compreendido se não forem conhecidas as suas causas ou os seus antecedentes e as suas consequências. Vejamos um exemplo: os exércitos franceses que iniciaram as Guerras da Revolução Francesa são frutos de uma evolução e essa evolução só pode ser compreendida abordando a sua forma original, anterior à Revolução. Por isso, a nossa narrativa terá de começar no Antigo Regime e teremos de proceder de forma idêntica quando chegar a altura de falar das consequências dos acontecimentos em causa.