1918 - A Frente Ocidental
O início do ano de 1918 não foi auspicioso para os Aliados. As promessas feitas em 1917 ficaram por cumprir. As comunicações marítimas entre a Europa e a América continuavam ameaçadas pelos submarinos alemães. A disponibilidade de recursos humanos que viessem substituir as grandes perdas sofridas estava dependente da preparação das forças americanas para entrarem em combate. Nesta situação difícil, tanto o Reino Unido como a França optaram por se manter na defensiva. Os comandantes britânico e francês, os generais Douglas Haig (1861-1928) e Philippe Pétain (1856-1951), concordaram em desenvolver ações de apoio mútuo caso os alemães lançassem uma ofensiva. A defesa em profundidade começou a ser organizada nas linhas aliadas.
O equilíbrio de forças em 1918 foi significativamente alterado relativamente ao ano anterior. A 15 de dezembro de 1917, a Rússia assinou um armistício com a Alemanha e seus aliados e iniciou conversações de paz que resultaram no Tratado de Paz de Brest-Litovsk, assinado a 3 de março de 1918. Com a Rússia afastada da guerra, quarenta e oito divisões alemãs puderam ser transferidas para reforçarem a Frente Ocidental onde o número de divisões alemãs (191) passou a ser superior ao número de divisões dos Aliados (178). Isto significava que os Alemães tinham uma oportunidade, a última, para tentarem derrotar os exércitos britânico e francês, antes que as forças norte-americanas viessem favorecer significativamente o potencial de combate dos Aliados.
O Tratado de Brest Litovsk
O Tratado de Paz de Brest Litovsk foi um tratado assinado entre as Potências Centrais (Império Alemão e Império Austro-Húngaro), o Reino da Bulgária e o Império Otomano, por um lado, e o governo bolchevique da Rússia, por outro. Assinado no dia 3 de março de 1918, o seu nome ficou a dever-se ao local onde decorreram as negociações, a cidade de Brest-Litovsk que estava então sob ocupação alemã e, atualmente, faz parte do território da Bielorrússia.
Grande parte do apoio popular dos bolcheviques deveu-se à promessa de retirar a Rússia da guerra. Neste sentido, foram iniciadas as negociações entre ambas as partes e, em dezembro, foi concluído um armistício a que se seguiram negociações para definir os termos de um tratado de paz. Os representantes das Potências Centrais encontraram algumas dificuldades em negociar com os representantes do Governo bolchevique. Só quando confrontados com novas ações militares alemãs, e para salvarem a revolução na Rússia, se dispuseram a assinar o tratado de paz.
Nos termos do Tratado de Brest-Litovsk, a Rússia renunciou a vastos territórios e deixava de constituir uma ameaça para as fronteiras orientais da Alemanha. Ficava assim realizada uma parte do plano inicial alemão para lidar com uma guerra em duas frentes, neutralizando um dos adversários. No entanto, ao contrário do que previa o Plano Schlieffen, foi a Frente Oriental e não a Frente Ocidental que colapsou e, além disso, demoraram mais de três anos para alcançarem este objetivo. [ALBRECHT-CARRIÉ, p. 349] Apesar deste sucesso, «a ocupação e exploração económica da Europa Oriental obrigou à retenção de forças alemãs substanciais na região (as estimativas variam entre 1 e 1,5 milhões de homens)» prejudicando a força enviada para a ofensiva na Frente Ocidental. [POPE & WHEAL, «Brest-Litovsk, Treaty of», pp. 82-83]
A Rússia cedeu todo o território polaco que se encontrava sob domínio do Império Russo até à Primeira Guerra Mundial, a atual Lituânia, parte da atual Bielorrússia e parte da atual Letónia, cerca de 150.000 km². Isto significou a perda de 34% da sua população, 32% da sua terra cultivável, 52% das suas instalações industriais. 89% das suas minas de carvão. Reconheceu a independência da Ucrânia e também cedeu à Turquia três distritos no Cáucaso [VOLKOGONOV, p. 212] Grande parte destes territórios tornar-se-iam autónomos ou independentes, mas sob grande influência (ou domínio) da Alemanha.
Após o Tratado de Brest-Litovsk, a questão que se colocava ao governo soviético era a de saber até que ponto a cooperação ou não com qualquer das partes ainda em guerra podia ajudar a assegurar a sobrevivência do regime. O que se verificou é que o abandono da guerra orientou a Rússia para uma cooperação com a Alemanha, por um lado, e entre os Aliados e os contrarrevolucionários russos - os "Brancos" - por outro. A 27 de agosto de 1918, foi estabelecido um acordo secreto relativo à cooperação militar entre a Rússia e a Alemanha. Entretanto, desde a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk, uma força dos Aliados desembarcou e estabeleceu-se em Murmansk, no norte da Rússia. Outras forças desembarcaram mais tarde em Vladivostok, no Extremo Oriente, e nas costas do Mar Negro. O objetivo era o derrube do regime bolchevique.
O Tratado de Brest-Litovsk foi formalmente anulado como parte do acordo para o armistício de 11 de novembro de 1918.
A Força Expedicionária Americana
Os Estados Unidos da América tinham declarado guerra à Alemanha a 6 de abril de 1917, mas apenas a sua marinha de guerra estava preparada para o conflito. A United States Navy, com cerca de 800.000 homens, estava principalmente empenhada na guerra contra os submarinos alemães e na proteção dos comboios de navios de passageiros e mercadorias. Cinco navios de guerra norte-americanos juntaram-se à Grand Fleet britânica e três outros passaram a operar em proteção das águas irlandesas. Uma parte importante da United States Navy participou na colocação de 56.000, do total de 70.000 minas marítimas que formavam uma faixa minada entre a Escócia e a Noruega [DUPUY & DUPUY, 1986, p. 977].
O United States Army não era mais que um pequeno exército regular com 200.000 soldados e sargentos e 9.000 oficiais, incluindo 65.000 homens da National Guard que estavam então a prestar serviço na fronteira com o México. O United States Army tinha agora pela frente um trabalho árduo de organizar, equipar, treinar, transportar e abastecer uma força expedicionária na Europa. Da força inicial de 209.000 homens, o exército norte-americano cresceu para os 4.000.000, incluindo cerca de 200.000 oficiais. Cerca de metade destes homens serviram na Europa, o que significou uma força de combate de 42 divisões [DUPUY & DUPUY, 1986, p. 976]. As divisões americanas tinham aproximadamente o dobro do pessoal das divisões britânicas ou francesas.
O abastecimento de uma força desta dimensão exige infraestruturas adequadas. Os abastecimentos que eram enviados dos Estados Unidos chagavam à Força Expedicionária Americana através dos portos do sul de França. As forças norte-americanas ficaram responsáveis pela região a leste de Verdun e, assim, o seu fluxo de abastecimentos não interferia com os das forças britânicas e francesas. Exceto para as armas ligeiras, o restante armamento, munições, veículos, material para manutenção, aviões, etc., eram fornecidos pela França e pelo Reino Unido. A produção norte-americana era, para a artilharia ou para aviões, muito limitada.
As Operações Militares
As operações militares na Frente Ocidental, durante o ano de 1918, podem ser divididas em duas fases: a ofensiva alemã e a contraofensiva aliada. Erich Ludendorff (1865-1937), o Primeiro Quartelmestre General (Erster Generalquartiermeister), compreendeu que a Alemanha só podia ganhar a guerra ou negociar a paz numa posição de força se obtivesse uma vitória decisiva na Frente Ocidental, antes que a correlação de forças fosse alterada a favor dos Aliados pelo peso das forças norte-americanas que estavam a ser preparadas e previa-se estarem disponíveis no início do verão de 1918. Por seu lado, os Aliados decidiram manter-se na defensiva até as tropas norte-americanas fazerem pesar a balança a seu favor.
O conjunto de operações ofensivas alemãs conhecido como “Ofensivas da Primavera” ou “Ofensivas Ludendorff”, apesar dos sucessos iniciais, fracassou. Estas ações ofensivas começaram a 21 de março e prolongaram-se até ao dia 5 de agosto. Seguiu-se a contraofensiva dos Aliados, conhecida como “Ofensiva dos Cem Dias”, com início a 8 de agosto e que se prolongou até 11 de novembro, data da assinatura do armistício entre os Aliados e a Alemanha. Nesta contraofensiva, as forças americanas tiveram um papel de relevo a partir de setembro.
As Ofensivas Alemãs
O que designamos ofensivas alemãs em 1918, é um conjunto sucessivo de ataques lançados sobre as posições aliadas. Estas operações ficaram conhecidas pelos seus nomes de código:
- Operação Michael ou Ofensiva do Somme - 21 de março a 5 de abril.
- Operação Georgette, Batalha do Lys, Quarta Batalha de Ypres ou Batalha de Estaires – 7 a 29 de abril.
- Operação Blücher, Ofensiva do Aisne ou Terceira Batalha do Aisne – 27 de maio a 6 de junho.
- Operação Gneisenau ou Ofensiva Noyon-Montdidier – 9 a 13 de junho.
- Ofensiva Champagne-Marne ou Segunda Batalha do Marne – 15 de julho a 5 de agosto.
Operação Michael (21 de março a 5 de abril)
Ludendorff selecionou uma zona, entre La Fére e Arras, defendida pelo exército britânico que ele considerava menos apto que o exército francês [WATSON, p. 1 pdf]. Esta zona tinha cerca de 80 km de frente. O ataque foi feito por três exércitos que eram os seguintes, de norte para sul:
- Décimo Sétimo Exército, sob o comando do General Otto Ernst Vincent Leo von Below (1857-1944);
- Segundo Exército, sob o comando do General Johannes Georg von der Marwitz (1856-1929);
- Décimo Oitavo Exército, sob comando do General Oskar von Hutier (1857-1934).
Esta força alemã era constituída por 72 divisões, uma força que poderia ascender a 950.000 homens. O seu objetivo era romper as linhas aliadas e separar os britânicos dos franceses. Esperava-se que, derrotados os britânicos, os franceses procurassem chegar a um armistício. Não foram definidos claramente objetivos antes do início da ofensiva. Os objetivos dos ataques foram constantemente alterados, dependendo da situação tática.
O sector que os alemães atacaram era defendido a norte pelo Terceiro Exército britânico, sob comando do General Julian Hedworth George Byng (1862-1935), e a sul pelo Quinto Exército britânico, sob comando do General Hubert de la Poer Gough (1870-1963).
A ofensiva começou no dia 21 de março. Às 04H20 foi iniciado um bombardeamento executado 6.473 bocas de fogo de artilharia e 3.532 morteiros, que durou cinco horas. Após esta preparação da artilharia, a infantaria lançou o ataque utilizando as modernas táticas de infiltração e os resultados foram muito bons. No primeiro dia, as tropas alemãs tinham conquistado 255 km2. Ao longo desta ofensiva, à medida que as tropas alemãs iam avançando, foram travadas várias batalhas:
- 21 – 23 de março: Batalha de St. Quentin;
- 24 a 25 de março: Primeira Batalha de Bapaume;
- 26 a 27 de março: Batalha de Rosières;
- 28 a 29 de março: Terceira Batalha de Arras;
- 4 a 5 de abril: Batalha do Avre;
Estas batalhas foram uma sucessão de sucessos das tropas alemãs. O Quinto Exército britânico colapsou e iniciou a retirada, deixando exposto o flanco direito do Terceiro Exército. No entanto, as forças do General Byng, tinham a defesa bem organizada em profundidade e conseguiram suster o ataque dos Décimo Sétimo e Segundo Exércitos alemães. Na zona do Quinto Exército britânico, foram empenhadas todas as reservas disponíveis, assim como algumas unidades francesas, e Ludendorff suspendeu a ofensiva.
As forças aliadas sofreram 240.000 baixas (163.00 britânicos e 77.000 franceses). Nestes números estão incluídos 70.000 prisioneiros de guerra. Também perderam 1.100 bocas de fogo de artilharia. As forças alemãs sofreram baixas quase tão elevadas como os Aliados, mas a maioria dessas baixas verificaram-se nas stormtroopers especialmente treinadas para as táticas de infiltração.
Esta ofensiva alemã formou um saliente com 64 km de profundidade. Ao sucesso tático inicial sucedeu-se o fracasso estratégico, porque, por falta dos recursos adequados e pelas características do terreno, houve dificuldade em fazer chegar à frente os abastecimentos necessários à continuação das operações, o apoio de fogos não conseguiu acompanhar o avanço da infantaria e não foi desencadeada nenhuma operação de exploração do sucesso para impedir o inimigo de realizar uma operação retrógrada e reconstituir uma defesa organizada. Para estas dificuldades contribuiu muito a ausência das infraestruturas adequadas, em geral, destruídas quando os alemães realizaram a Operação Alberich (retirada para a Linha Siegfried) em 1917 [DUPUY & DUPUY, 1986, p. 979].
O desenrolar dos acontecimentos determinou o afastamento do General Gough que foi substituído no comando do Quinto Exército britânico pelo General Henry Seymour Rawlinson (1864-1925). No entanto, para os alemães, a mais séria consequência desta ofensiva foi a instituição de um comando unificado aliado. Perante o avanço alemão, o Conselho Superior de Guerra reuniu-se de emergência em Doullens, no atual departamento de Somme, França. Nessa reunião, o General Ferdinand Foch (1851-1929) recebeu a missão de coordenar as forças aliadas na Frente Ocidental. Numa outra reunião do Conselho, a 3 de abril, em Beauvais, no atual departamento de Oise, França, o General Foch foi nomeado Comandante Supremo dos Exércitos Aliados.
Operação Georgette (7 a 29 de abril)
No dia 7 de abril, os alemães lançaram uma segunda ofensiva, a Operação Georgette, também conhecida como Ofensiva do Lys, Batalha do Lys ou Quarta Batalha de Ypres. Na realidade, estes nomes enganam porque a Batalha do Lys foi o primeiro de uma sucessão de confrontos que se prolongaram até 29 de abril, sendo os seguintes os mais destacados:
- 9 a 11 de abril: Batalha de Estaires, conhecida em Portugal por Batalha de La Lys;
- 10 a 11 de abril: Batalha de Messines;
- 12 a 15 de abril: Batalha de Hazebrouck;
- 13 a 15 de abril: Batalha de Bailleul;
- 16 de abril: Retirada britânica de Passchendaele;
- 17 de abril: Batalha de Merckem;
- 17 a 19 de abril: Primeira Batalha de Kemmel;
- 18 de abril: Batalha de Béthune;
- 25 e 26 de abril: Segunda Batalha de Kemmel;
- 29 de abril: Batalha de Scherpenberg.
As forças portuguesas estavam integradas no no Primeiro Exército britânico, sob o comando do General Henry Sinclair Horne (1861-1929). Essas forças consistiam em duas divisões de infantaria. No entanto, na 1ª Divisão surgiram problemas disciplinares graves e esta foi enviada para a retaguarda. A 2.ª divisão, sob o comando do General Manuel de Oliveira Gomes da Costa (1863-1929), reforçada com a 3.ª Brigada da 1.ª Divisão, ficou então responsável por uma frente que antes era defendida por duas divisões. Com a retirada da 1.ª Divisão para as linhas da retaguarda, a 2.ª Divisão portuguesa foi integrada no XI Corpo de Exército britânico, sob o comando do General Sir Richard Cyril Byrne Haking (1862-1945).
No dia 7 de abril, os alemães deram início a uma intensa preparação de artilharia, que durou até ao dia 9. Neste dia, às 08H00, foi iniciado o ataque alemão, a coberto de um espesso nevoeiro e da intensificação do fogo de artilharia a partir das 04H00. O ataque no sector português foi particularmente violento e a 2ª Divisão, assim como algumas forças britânicas e francesas, foi obrigada a retirar sofrendo pesadas baixas. A ofensiva alemã tinha o objetivo de capturar as principais ferrovias e estradas em Hazebrouk e isolar o Segundo Exército Britânico em Ypres. Os avanços alemães continuaram até ao dia 17, após um avanço de 16 km que incluiu a recaptura das alturas de Messines (10-11 de abril). Foch reuniu parte das reservas que tinha disponíveis e reforçou as linhas de defesa britânicas. Apesar dos sucessos iniciais, os alemães falharam em tomar o nó de comunicações em Hazebrouk.
Operação Blücher (27 de maio a 6 de junho)
A Operação com o nome de código “Blücher” é também conhecida por Terceira Batalha do Aisne. O Primeiro Exército alemão, sob comando do General Karl Bruno Julius von Mudra (1851-1931), e o Sétimo Exército alemão, sob comando do General Max Ferdinand Karl von Boehn (1850-1921), atacaram os Quinto e Sexto Exércitos franceses, e as três divisões britânicas que se encontravam ao longo do Chemin des Dames. Este foi um ataque de diversão para obrigar os franceses a reterem as reservas naquela zona, antes de ser lançado um ataque decisivo contra os britânicos na Flandres.
O ataque começou a 27 de maio, após a preparação de artilharia. As tropas alemãs conquistaram rapidamente Chemin des Dames e continuaram o avanço até atingirem a linha do Aisne. Este era o objetivo do ataque, mas Ludendorf deixou-se enganar pelos sucessos obtidos e deu ordem para que as tropas continuassem a avançar. A 30 de maio, alcançaram o Marne. A gravidade da situação obrigou Foch a empenhar as reservas, nas quais já se encontravam duas divisões americanas. As tropas alemãs estavam a 90 Km de Paris e tinham criado uma bolsa de penetração com 30 km de profundidade e 50 km de largura. No entanto, isto significava que, em vez de obterem uma vitória decisiva sobre o inimigo, criaram um saliente vulnerável. As ofensivas lançadas a partir desta bolsa fracassaram.
Operação Gneisenau (9 a 12 de junho)
No dia 9 de junho foi lançado um novo ataque a partir da bolsa criada na Operação Blücher. O objetivo era atrair as forças aliadas em reserva para atacar com maior segurança as forças britânicas na Flandres. Inicialmente, as forças alemãs avançaram cerca de 14 km, apesar da resistência desenvolvida pelas forças francesas e norte-americanas. No dia 11 de junho, em Compiègne, os franceses lançaram um contra-ataque, sob o comando do General Charles Mangin (1866-1925). Os alemães foram surpreendidos e o seu avanço parou. No dia seguinte, Ludendorff cancelou a Operação Gneiseau.
A Segunda Batalha do Marne (15 de julho a 5 de agosto)
Ludendorf encontrava-se perante o dilema de prosseguir a sua ideia de derrotar os britânicos na Flandres ou avançar sobre Paris e derrotar as forças francesas, assumindo que, perante essa situação, os britânicos retirariam para as Ilhas Britânicas. A proximidade de Paris ditou a escolha pela segunda modalidade. Enquanto Ludendorf preparava o planeamento para esta operação, já Foch, avisado das intenções alemãs pelo reconhecimento aéreo, por desertores e por prisioneiros de guerra, preparava a contraofensiva dos Aliados.
Na noite de 14 para 15 de julho, as stormtrooper, as primeiras a avançar, foram flageladas pela artilharia aliada. A leste de Reims, o Quarto Exército francês, sob comando do General Henri Joseph Eugène Gouraud (1867-1946), repeliu o ataque alemão em poucas horas. A oeste de Reims, onde as defesas eram mais fracas, o Sétimo Exército alemão chegou ao Marne e catorze divisões atravessaram o rio, mas foram detidas pelas forças francesas e americanas. As forças alemãs ficaram encurraladas quando a aviação aliada e a artilharia destruíram as pontes alemãs sobre o Marne. Desta forma, ficaram impedidas de receber reforços ou abastecimentos. Ludendorf preparou-se para retirar dos salientes que as anteriores ofensivas tinham formado, por forma a reduzir a frente a ser defendida pelas suas forças esgotadas.
As baixas dos Aliados foram elevadas, mas as tropas americanas estavam agora a chegar a um ritmo de 300.000 por mês. As ofensivas alemãs provocaram baixas elevadas e a Alemanha já não dispunha de recursos humanos que permitissem substituí-las. No início do ano, os alemães tinham no terreno, em todas as frentes em que estavam empenhados, cerca de 5.100.000 homens. No final da ofensiva, dispunham de 4.200.000, mal alimentados, vulneráveis a doenças epidémicas. A partir de junho de 1918, cerca de 500.000 alemães na Frente Ocidental foram contaminados pela Gripe Espanhola, reduzindo drasticamente o potencial das suas unidades [AFONSO & NATOS GOMES, 2003, pp. 419-426]
A contraofensiva aliada
Ao conseguirem deter a ofensiva alemã no Marne, as forças aliadas iniciaram uma contraofensiva que, aliada a inúmeros problemas de ordem interna, conduziram ao colapso das forças alemãs. A contraofensiva dos Aliados contou com uma participação cada vez maior das forças dos Estados Unidos da América, o que aumentou significativamente o seu potencial de combate. As forças alemãs, por seu lado, estavam esgotadas e não dispunham de reservas.
A Ofensiva Aisne-Marne (18 de julho a 5 de agosto)
A contraofensiva dos Aliados começou no dia 18 de julho com o ataque ao saliente criado pelas tropas alemãs que tinham atravessado o Marne. Nesta ofensiva aliada participaram forças francesas reforçadas com oito divisões americanas. Os alemães foram obrigados a recuar, mas fizeram-no em ordem e oferecendo uma resistência forte. No segundo dia da ofensiva aliada, a 20 de julho, Ludendorff cancelou a ofensiva alemã que estava prevista para a região da Flandres, porque necessitava de todas as suas forças para estabilizar a frente. A 5 de agosto, o saliente do Marne, que tinha sido criado pelos alemães, deixou de existir e a frente ficou mais curta 45 km. Também foi restabelecido o caminho de ferro Paris - Châlons.
A Ofensiva do Marne custou aos alemães 139.000 mortos e feridos, 30.000 prisioneiros, 600 bocas de fogo de artilharia e 3.000 metralhadoras. Os Aliados sofreram, em mortos e feridos, 95 165 franceses, 16 552 britânicos e 12.000 norte-americanos.
Ofensiva de Amiens (8 de agosto a 4 de setembro)
Às 4H20 de 8 de agosto de 1918, os Aliados (França, Reino Unido e outras forças do então Império Britânico, e os Estados Unidos) lançaram uma ofensiva em Amiens, no noroeste de França. A operação prolongou-se até 4 de setembro. A operação foi preparada ao detalhe e em grande segredo. O seu objetivo principal era abrir as linhas ferroviárias que passavam em Amiens. Os resultados foram espetaculares.
Ao fim do primeiro dia, os Aliados tinham avançado 13 quilómetros e os alemães tinham sofrido um número de baixas que os deixou desmoralizados. A batalha continuaria por mais dois dias, sempre com progressos, embora a um ritmo menos acelerado. No final, as perdas alemãs (100.000 incluindo 30.000 prisioneiros) foram quase o dobro das aliadas (22.000 britânicos e 20.000 franceses). Daí para a frente, os Aliados não pararam. Amiens representou o início da chamada Ofensiva dos Cem Dias, que terminou com o fim da Primeira Guerra Mundial.
Ofensiva de St. Mihiel (12 a 16 de setembro)
A batalha de St. Mihiel viu a primeira grande ofensiva americana independente da Primeira Guerra Mundial . A 30 de agosto de 1918, o Primeiro Exército Americano estava finalmente pronto para entrar na batalha. O novo exército foi imediatamente colocado no lado sul do saliente de St. Mihiel. Este saliente, ao sul de Verdun, estava em mãos alemãs desde 1914, mas no outono de 1918, os alemães estavam em retirada. Em meados de setembro, eles estavam prestes a abandonar o saliente de St. Mihiel para recuar para a Linha Hindenburg.
A retirada alemã começou em 11 de setembro. Na manhã seguinte, os americanos atacaram. Pershing empenhou dois corpos de exército (I e IV) para o ataque que foi apoiado por uma barragem de artilharia executada por 2.900 bocas de fogo (muitas delas francesas), bem como uma força de carros de combate franceses e uma divisão colonial francesa. Os alemães foram surpreendidos e, em 36 horas, os americanos fizeram mais de 13.000 prisioneiros e capturaram 466 armas. Os alemães sofreram 5.000 mortos e feridos e mais de 15.000 prisioneiros, enquanto os americanos sofreram 7.000 baixas. Após esta ofensiva os americanos foram empenhados na Ofensiva Meuse-Argonne.
Ofensiva Meuse-Argonne (26 de setembro a 11 de novembro)
A ofensiva Meuse-Argonne foi a maior batalha travada pela Força Expedicionária Americana durante a guerra. O plano de Ferdinand Foch previa três ofensivas com o objetivo de forçar os alemães a saírem da França e da Bélgica. No norte, os belgas, britânicos e franceses atacariam por Flandres. No centro, as forças britânicas (e do Império Britânico) atacariam a Linha Hindenburg entre Cambrai e St. Quentin e, finalmente, ao sul, os franceses e americanos atacariam entre Reims e Verdun, ao longo do Vale do Meuse e através da Floresta Argonne.
A ofensiva Meuse-Argonne foi lançada pelo Primeiro Exército Americano, sob o comando do General John Pershing , e pelo Quarto Exército Francês sob o comando do General Henri Gourand. Os americanos mantiveram a parte oriental da linha, de Forges no Meuse, a noroeste de Verdun, até o centro da Floresta de Argonne. O Quarto Exército Francês então assumiu o controle da zona de Auberive para o Suippe, a leste de Reims. Os americanos enfrentaram uma tarefa muito difícil. As linhas alemãs tinham até quase 20 km de profundidade e estavam em desenvolvimento desde 1915. A segunda linha foi baseada na colina de Montfaucon, a terceira linha (a Linha Hindenburg) nas colinas de Romagne. Toda a área era montanhosa e arborizada, cortada por vales íngremes. A área também era mal apoiada por ligações rodoviárias e ferroviárias. Os americanos tinham lutado recentemente uma batalha em St Mihiel, (12-13 de setembro de 1918) , a leste de Verdun, e Pershing teve que transferir 600.000 homens por três estradas menores para chegar à sua nova frente a oeste da cidade. A luta em St. Mihiel também infligiu pesadas perdas a algumas das melhores unidades de Pershing, e assim o ataque no Argonne teve que ser feito com muitas tropas novas e inexperientes.
O ataque combinado franco-americano começou na manhã de 26 de setembro. Nos primeiros cinco dias, os franceses avançaram 15 km, penetrando profundamente nas linhas alemãs. Os americanos encontraram mais dificuldades. Ao longo do Meuse, eles conseguiram avançar 8 km, mas na Floresta de Argonne, só conseguiram se avançar 3,5 km. No início de outubro, as divisões usadas no ataque inicial estavam exaustas e Pershing foi forçado a ordenar uma paragem para substituí-las por unidades mais frescas. Durante esse período, Foch sofreu grande pressão de Clemenceau para substituir Pershing, mas Foch estava bem ciente das dificuldades enfrentadas pelos americanos e manteve-se firme. A 4 de outubro, as forças americanas lançaram uma série de ataques frontais que, com baixas elevadas, começaram a romper as principais defesas alemãs. No final de outubro, os americanos tinham avançado 16 km e, finalmente, limparam a Floresta de Argonne. À sua esquerda, os franceses avançaram 30 km e alcançaram o Rio Aisne.
O avanço continuou durante os primeiros onze dias de novembro. A 6 de novembro, o Quarto Exército Francês e o I CE dos EUA estavam se aproximando de Sedan, e a crucial linha ferroviária Sedan-Metz, vital para o abastecimento da frente alemã, ficou sob fogo de sua artilharia. A 1ª Divisão dos EUA avançou em direção a Sedan, mas recebeu ordens de parar para permitir que os franceses tomarem a cidade, cenário de uma derrota humilhante durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). A batalha só terminou com o armistício, às 11h00 do dia 11 de novembro de 1918.
A ofensiva de Meuse-Argonne custou aos americanos 117.000 baixas, aos franceses 70.000 e aos alemães 100.000. As baixas americanas representaram 40% de suas perdas totais no campo de batalha durante a guerra. Entre essas perdas estavam 48.909 mortos.
Ofensivas finais britânicas, francesas e belgas (27 de setembro a 11 de novembro)
Após o início da ofensiva americana no Vale do Meuse, Grupo de Exércitos sob comando do General Haig atacou a linha Hindenburg. As forças alemãs trocaram espaço por tempo e retiraram a 5 de outubro para as últimas posições defensivas da Linha Hindenburg. Os britânicos não conseguiram penetrar nestas posições onde os alemães estabeleceram defensiva muito bem organizada.
Na Flandres, O Grupo de Exércitos constituído por tropas britânicas e belgas atacaram a linha de alturas de Ypres, mas a forte resistência oferecida pelos alemães e as dificuldades em abastecer sobre um terreno pantanoso obrigaram a abrandar o avanço das forças dos Aliados.
Devido ao progresso das forças americanas na região Meuse-Argonne, os alemães retiraram ao longo de toda a linha. Ludendorff esperava restabelecer uma nova defesa a oeste da fronteira alemã e, através de uma defesa determinada durante o inverno, levar os Aliados a apresentarem termos de paz generosos. No entanto, os Aliados mantiveram uma forte pressão ao longo de toda a frente e, a 17 de outubro, o Quarto Exército britânico penetrou nas defesas alemãs no rio Selle, enquanto o Terceiro Exército, a 20 de outubro, obrigava a uma retirada das forças alemãs. Simultaneamente, as forças belgas e britânicas começaram a avançar na Flandres.
Finalmente, o Armistício
Um armistício é uma suspensão das hostilidades para negociar a paz. Não faz sentido negociar a paz sem suspender as hostilidades porque, mantendo os combates, poderá acontecer que as conversações de paz sejam iniciadas numa situação que se altere significativamente durante o processo e obrigue as partes envolvidas a reverem as suas posições conforme as vantagens ou desvantagens entretanto criadas no teatro de operações. O armistício só por si não conduz ao fim do estado de guerra, mas cria as condições para que a paz seja atingida. O armistício é sempre bilateral, ou seja, ambas as partes devem concordar com os termos da suspensão das hostilidades.
A Bulgária tinha concordado num armistício com os Aliados, a 30 de setembro de 1918. O Império Otomano, exausto, deixou de lutar a 30 de outubro. O Império Austro-Húngaro, a caminho da desintegração, cessou a luta a 3 de novembro. A Alemanha encontrava-se isolada. O Chanceler Georg von Hertling (1 novembro 1917 a 30 setembro 1918) foi substituído pelo Príncipe Maximiliano de Baden (30 setembro 1918 a 9 novembro 1918) que, a 4 de outubro enviou ao Presidente Wilson dos EUA o pedido para um cessar-fogo. O General der Infanterie Erich Ludendorff, que tinha imposto na Alemanha um verdadeiro governo militar, foi afastados das suas funções.
Os Governos europeus do Reino Unido e da França não estavam de acordo com as condições mais conciliatórias defendidas por Woodrow Wilson. As conversações entre os líderes dos Aliados chegaram ao ponto de o Presidente dos EUA ameaçar fazer uma paz separada com a Alemanha. O Supremo Conselho de Guerra comunicou à Alemanha, a 5 de novembro, a aceitação do cessar-fogo, impondo condições duras, entre elas a abdicação de Guilherme II. No dia 10 de novembro, uma delegação alemã encontrou-se com o Marechal Foch e outros representantes militares, na floresta de Compiègne, cerca de 65 km a nordeste de Paris, perto da linha da frente franco-alemã. Os termos do acordo foram impostos aos delegados alemães e o armistício foi assinado no dia seguinte, de manhã, na carruagem de caminho-de-ferro que servia de quartel-general de Foch.
Os termos do Armistício podem ser consultados em https://en.wikisource.org/wiki/Armistice_between_the_Allied_Governments_and_Germany
O Armistício entrou em vigor por 36 dias e foi renovado várias vezes durante a realização da Conferência de Paz de Paris (18 janeiro 1919 a 20 janeiro de 1920):
- Primeiro Armistício - 11 de novembro de 1918 a 13 de dezembro de 1918;
- Primeira prorrogação do armistício - 13 de dezembro de 1918 a 16 de janeiro de 1919;
- Segunda prorrogação do armistício - 16 de janeiro de 1919 a 16 de fevereiro de 1919;
- Terceira prorrogação do armistício - 16 de fevereiro de 1919 – 10 de janeiro de 1920.
Pequeno resumo sobre a evolução da guerra na Frente Ocidental.
A guerra na Frente Ocidental pode ser dividida em três fases caracterizadas, entre outros fatores, primeiro pelo movimento, seguindo-se uma guerra de posição e atrito e, finalmente a recuperação do movimento. Vejamos com um pouco mais de pormenor cada uma destas fases.
Primeira fase, 1914
A guerra teve início na Frente Ocidental por iniciativa da Alemanha que, baseando-se no seu Plano Schlieffen, necessitava de movimentar rapidamente as suas forças por forma a conseguir o envolvimento dos exércitos franceses e, desta forma, alcançar uma rápida vitória a Oeste para poder transferir parte importante das suas forças para Leste e então derrotar a Rússia. Este conceito exigia grande capacidade de movimento. Por várias razões, a Alemanha fracassou na aplicação do Plano Schlieffen.
Fracassou, em primeiro lugar, porque a ala direita do dispositivo alemão, após as alterações introduzidas pelo General von Moltke, não era suficientemente forte para alcançar os objetivos desejados. Moltke transferiu forças da ala direita para o centro e ala esquerda do dispositivo porque, segundo os seus cálculos, o dispositivo alemão nestas regiões era demasiado fraco. A mobilização e a ofensiva russa, mais cedo que o esperado, levou a que Moltke transferisse ainda mais tropas para a Frente Oriental. A consequência foi uma força inadequada para executar o plano de Schlieffen.
Por ouro lado, Schlieffen e o seu sucessor, von Moltke, não deram a importância necessária à manobra logística. As tropas alemãs sofreram a falta de abastecimentos. Naquela época, a única forma de transportar grandes quantidades de abastecimentos de toda a espécie era através dos caminhos-de-ferro. Quando estes já não existiam e a sua construção não era possível em tempo oportuno, utilizavam-se animais para carregar os abastecimentos ou puxar carros. Também era utilizadas viaturas, mas num número relativamente pequeno. Quando foi travada a Segunda Batalha do Marne (5 a 12 setembro 1914), as tropas alemãs estavan exaustas e as suas linhas de abastecimento eram demasiado longas, provocando quebras no abastecimento, como alguma carência de munições e forragem para os cavalos. Estima-se que a Alemanha tenha utilizado mais de um milhão de cavalos durante a guerra, o que, só por si, exigia uma grande quantidade de abastecimentos
A vitória franco-britânica na Batalha do Marne fez com que os exércitos alemães procurassem envolver o flanco norte dos Aliados. Da mesma forma, estes procuraram envolver o flanco norte das forças alemãs. Sucederam-se várias batalhas, cada uma mais perto do mar que a anterior, num movimento estratégico que ficou conhecido como “corrida para o mar”. O envolvimento não foi conseguido por nenhum dos lados e, à medida que avançavam, iam construindo um sistema de trincheiras. Foi criada uma frente fortificada entre o Mar do Norte e a fronteira franco-suíça. Começava outro tipo de guerra.
Segunda fase, 1915-1917
Após uma fase da guerra em que os movimentos estratégicos eram essenciais para que os objetivos fossem atingidos, em especial do lado alemão, e após uma guerra em que a manobra tática resultava da normal aplicação das doutrinas em vigor em todos os exércitos, gerou-se uma situação em que ambas as partes, impedidas de realizar estes movimentos, protegem-se em trincheiras. Esta proteção coletiva é essencial perante o crescente poder de fogo. Com um sistema defensivo, em ambos os lados, que se estende do Mar do Norte à fronteira com a Suíça, inicia-se um novo tipo de guerra que ficou conhecida como “Guerra de Trincheiras”.
Não sendo possível executar uma manobra de envolvimento, a única forma de obter ganhos significativos era a realização da penetração sectores escolhidos da extensa linha fortificada. Isto significa atacar as posições inimigas com a finalidade de romper, por uma ação em força, uma posição defensiva inimiga, alargar a brecha assim criada e destruir a continuidade do dispositivo defensivo do adversário. Esta manobra de penetração é apoiada por ataques frontais que ajudam a fixar o inimigo e impedem o inimigo de reforçar o sector onde se pretende realizar a penetração. O objetivo é sempre destruir a continuidade da defesa inimiga.
Os ataques frontais e as tentativas de penetração provocaram sempre um número muito elevado de baixas e os resultados obtidos resumiram-se sempre a poucos ganhos territoriais. O grande aumento do poder de fogo reforçou a vantagem dos defensores e as soluções procuradas passaram pelo emprego cada vez mais massivo da artilharia, com consumos para os quais a indústria não estava preparada. Foram desenvolvidos e utilizados outros meios como as armas químicas, os carros de combate e a aviação. No entanto, os atacantes nunca tiveram capacidade para penetrar nas linhas inimigas de forma a criar uma brecha significativa no seu sistema defensivo.
A decisão dos líderes militares de enveredarem por uma guerra de atrito ou de desgaste mostra o reconhecimento da incapacidade de penetrarem as linhas inimigas. A Batalha de Verdun (21 fevereiro a 18 dezembro 1916) é o mais claro exemplo destas decisões, deste tipo de guerra e da incapacidade em resolver este problema. Já em 1915, Winston Churchil tinha identificado claramente o problema e propôs a realização da expedição de Galípoli com a finalidade de chegar à Rússia através dos Estreitos de Dardanelos e do Bósforo, derrotar a Turquia e transformar os Balcãs numa base para o envolvimento das Potências Centrais. Em 1916, foi dado um grande apoio à Revolta Árabe e desde 1915 foi feito um grande esforço na Mesopotâmia. A Itália, Bulgária, a Roménia e a Grécia foram pressionadas a entrar na guerra.
Numa tentativa de “sufocar” o Império Alemão, o Reino Unido organizou um bloqueio naval com o objetivo de impedir a importação de matérias primas pela Alemanha. Em resposta a este bloqueio, a Alemanha desenvolveu uma frota temível de submarinos – chegaram a ser 300 em 1917 – que impuseram um bloqueio às Ilhas Britânicas. Em 1917, devido ao bloqueio alemão, as reservas de abastecimentos na Grã-Bretanha diminuíram até chegarem às seis semanas.
Terceira fase, 1918
A entrada dos EUA na guerra, em abril de 1917 e a retirada da Rússia, em março de 1918, foram dois fatores que conduziram às ofensivas alemãs planeadas por Ludendorff entre março e julho de 1918. A saída da Rússia libertou forças que foram transferidas para Frente Ocidental, mas era necessário obter uma vitória decisiva antes que os norte-americanos estivessem em condições de influenciarem decisivamente os acontecimentos. Novas táticas levaram as tropas alemãs a aproximarem-se de Paris. O movimento - das ofensivas alemãs e das retiradas aliadas - reapareceu no campo de batalha e o seu sentido só se inverteu após a Segunda Batalha do Marne (15 de julho a 5 de agosto) quando os Aliados iniciaram a contraofensiva (18 de julho) e obrigaram as tropas alemãs a grandes recuos, embora nunca desordenados. A famosa Linha Siegfried ou Linha Hindenburg foi quebrada. A situação interna da Alemanha e a constatação de que não seria possível uma vitória militar, levaram o seu governo a solicitar o armistício.
Para este sucesso dos Aliados, além da participação dos EUA, essencial para a vitória dos Aliados, contribuíram fundamentalmente os melhoramentos consideráveis nos carros de combate britânicos (MK IV) e franceses (Renault FT-17), de uma força aérea numerosa e cada vez mais habilitada a atacar posições no solo. O movimento ganhava terreno no campo de batalha e as lições aprendidas neste conflito foram magistralmente aplicadas pelos alemães no início da Segunda Guerra Mundial. Pode-se dizer que as últimas batalhas foram um primeiro ensaio para o tipo de guerra que conhecemos como Blitzkrieg.
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Torres Vedras, 7 de outubro de 2024
Manuel F V G Mourão