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Preâmbulo

Este texto é um resumo do livro de Júlio César. O texto integral existe em português, em edição da Estampa. Como é natural, o resumo "trai" por vezes o discurso do autor. Por exemplo, muita da argumentação de César a propósito das suas "maldades" não é referida. É pois necessário, a quem queira conhecer a exposição completa das "razões" de Caio Júlio, a consulta do seu livro.

As notas vão dadas a verde e os termos latinos em itálico.

Jorge Almeida

PREFÁCIO (opinião) de Maurice Rat (“editorial estampa”, ano de 1989).

Diz Hírcio que os “Comentários da Guerra das Gálias” foram escritos «com uma grande facilidade e rapidez»: terão sido escritos em apenas 3 meses, no Outono de 52, quando César, havendo vencido Vercingetorix (Vercingetorige), quis dar a conhecer à opinião pública romana, antes da sua segunda candidatura ao consulado, os sucessos da conquista da Gália. Os seus adversários haviam posto a circular inumeráveis “estórias” contra ele, por exemplo: que perdera a sua cavalaria; que fizera uma legião ser massacrada; que tivera de ceder frente aos Bellovaci (belóvacos). A “Guerra das Gálias” foi, pois, escrita como resposta às intrigas e calúnias dos seus inimigos políticos.

Na sua redacção, serviu-se dos relatórios enviados após cada campanha ao senado; relatórios específicos dos seus lugar-tenentes sobre este ou aquele acontecimento nas campanhas; das recordações pessoais e, talvez, de notas próprias.

Tem o cuidado de não conceder aos seus adversários que a verdadeira causa da conquista das Gálias foi a sua ambição desenfreada.

Que hábil advogado é César em “A Guerra das Gálias” e também que hábil narrador! Estilo nu, despojado, usando um vocabulário muito simples, em que «foge como de um escolho de toda a palavra nova e insólita». Dá aos “Comentários” o tom impessoal, “objectivo”, de um comunicado...acredita-se estar-se lendo a linguagem da própria verdade. Nenhuma retórica, pelo menos aparente; nada que não sejam factos. Quase sempre, resume no estilo indirecto os seus discursos e alocuções: a impressão de objectividade sai disso reforçada...mesmo quando insere discursos de chefes gauleses na sua narrativa, temos a impressão de eles serem autênticos...de resto, não foi ele informado pelos trânsfugas? As alocuções de Vercingetorige são muito bem compostas, mas o chefe arverno havia estudado na escola dos druidas e, provavelmente, na de um retórico grego, as regras da eloquência.

A mesma nudez, o mesmo tom impessoal na narrativa; nada de digressões, nada de dissertações...desdém pelos preâmbulos, tão queridos a Salústio e Tito Lívio... e entrada brusca na matéria.

Espalhados pelo texto, à medida que vai desfiando os acontecimentos, pormenores sobre a origem e o tipo de vida dos bárbaros que combateu. Nas descrições, um quase absoluto desprezo pelo pitoresco. Não trata de ser dramático, sensível, de espicaçar a curiosidade do leitor; expõe, com uma clareza luminosa, a localização geográfica dos sítios, o itinerário das tropas, as fases de um combate ou de um cerco.

Cícero (“Brutus”): «Os Comentários são despojados, como se faz no vestuário, de todo o ornamento oratório...De resto, ao propor-se fornecer materiais de que se serviriam os que gostariam de escrever história, fez sem dúvida qualquer coisa de agradável aos tolos, que serão tentados a levar o ferro de frisar; mas tirou a vontade de escrever aos homens de bom senso; porque nada é mais agradável em história do que uma concisão luminosa e pura».

Só emprega palavras correntes; a sintaxe é das mais nítidas...escreveu com a elegância que o caracteriza, mas sem nunca esquecer que se dirigia a um vasto público e que lhe era necessário, para ser compreendido por todos, usar as palavras de toda a gente. Assim, o primeiro mérito do seu estilo é fazer esquecer o estilo; o primeiro mérito da sua linguagem é não confundir o leitor com termos especiais e construções complicadas.


Neste instrumento de propaganda pessoal, e sob esta objectividade aparente, tudo se harmoniza para lhe valorizar o génio...a acção rápida e fulminante...a sua rapidez em tomar decisões úteis.


ALGUNS DADOS CRONOLÓGICOS.

101 – Nascimento de C. Julius Caesar, da gens julia, que pretendia descender de Iúlo.

86 a 78 – Sila, que nele via «vários Mários», priva-o do flaminato de Júpiter, do dote de sua mulher, Cornélia, e das suas heranças de família. Obtido o perdão do ditador, terça as suas primeiras armas na Ásia. Ao ter conhecimento na Cilícia da morte de Sila, regressa de imediato a Roma.

60 a 58 – Depois de ter casado com Calpúrnia, filha de Pisão (Lucius Calpurnius Piso, governador da Macedónia em 57, ali se distinguiu pela devassidão e pelas rapinas; censor em 50), que devia suceder-lhe no consulado, e de ter casado com Pompeu a sua filha Júlia, com a força dos sufrágios do sogro e do genro obtém o governo de três províncias.

58 a 51 – Suetónio (“Vida de César”, 25): «Em 9 anos, reduziu a províncias toda a Gália encerrada entre os desfiladeiros dos Pirinéus, dos Alpes, dos montes Cevenas e dos cursos do Reno e Ródano, e que forma um circuito de cerca de 3.200.000 pessoas, sem contar as cidades aliadas que tinham prestado serviços a Roma. Impôs-lhes um tributo anual de 40.000.000 de sestércios. O primeiro dos romanos, depois de ter construído uma ponte sobre o Reno, que atacou os germanos que habitam para lá do rio, infligindo-lhes grandes derrotas. Atacou também os Britanni, desconhecidos até então,  venceu-os e deles exigiu dinheiro e reféns...não sofreu senão ao todo três desaires: na Britannia, onde a sua esquadra foi quase aniquilada por uma violenta tempestade; na Gália, onde em frente de Gergóvia uma das suas legiões foi posta em debandada; e nos confins da Germânia, onde os seus lugar-tenentes foram massacrados numa emboscada».

49-48 – Guerra civil; derrota de Farsália; Pompeu morre assassinado no Egipto.

46 – Guerra de África; derrota dos pompeianos em Thapsos; Catão mata-se em Útica. Vercingetorige, que César mantinha a ferros desde a rendição de Alésia, após o quádruplo triunfo, morre estrangulado a ordem do romano.

45-44 – Guerra de Espanha; os filhos de Pompeu são derrotados em Munda (na Bética). Fim da guerra civil; nomeado ditador vitalício, imperator (general comandante-em-chefe de todos os exércitos) e praefectus morum, é assassinado nos idos de Março de 44.